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9 de dez. de 2008

Semelhança

Tenho recebido lindos comentários para alegrar meus dias. Quero responder com calma e inclusive publicar algumas palavras tão ternas que chegam ao meu alcance.

Há uma singela magia, atravessando o tempo e a distância, em forma de palavra. Na escrita e leitura que nos une encontramos no outro o "eu" oculto. O "eu" semelhante.

A poetisa de quem sou fã e aluna, Elisa Lucinda, escreveu:

O Poema do Semelhante

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.


Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.


Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.


O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.


O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente


Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.


Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança"

2 comentários:

Menina Marina disse...

Lindo poema! Cheio de sonoridade e beleza.
Arrepiou-me.

Beijo grande!

Ana Luísa disse...

Passando aqui pela primeira vez.
Gostei bastante do poema, e tbm li o post anterior. Já ouvi falar de Patch Adams, mas ainda n vi o filme, e nem sabia que tinha o livro! Acho lindo, e vou procurar saber mais a respeitoo!
Bjs!

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