Fui ao cinema hoje assistir Invictus.
Eu me emocionei em conhecer a personalidade de Mandela.
Lembrei do meu pai. Fiquei com saudade, ele ia se identificar com filme. Eu adorei!
Sinto que, em outra esfera, meu pai também era uma inspiração para as pessoas ao redor. Isso eu ainda não consegui ser como ele...
Se esta é a sua primeira vez neste blog leia na coluna da direita as instruções!
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18 de mar. de 2010
8 de mar. de 2010
O amor acontece
Voltei do cinema quase agora, fui assistir ao filme "O amor acontece"(Love happens). Além de ter achado fofo, tem cenas lindas de Seattle. Só as cenas da cidade já me deixaram emocionada. Passei quase 4 meses da minha vida lá no ano passado e para mim também foi naquele lugar que o amor aconteceu. Tenho lembranças muito mágicas da cidade. Gostei muito da cena no topo do prédio. Quem assistir vai entender. É sempre bom enxergar tudo por uma nova perspectiva.
2 de ago. de 2009
10 de out. de 2008
Filme Romântico?
Por que continuo acreditando que um dia iremos ao cinema e não deixarei ele escolher o filme?
Por que quando estamos na fila eu fico com dó dele assistir um romance se ele já tinha concordado em me deixar decidir dessa vez?
Por que depois de ter a feito a besteira de ceder e assistir o filme dele eu fico com vontade de ir embora antes do filme terminar e prometo a mim mesma que jamais farei isso de novo?
Só que nem eu mesma acredito e me justifico dizendo (a mim mesma) que de nada adianta assistir um romance sem estar no clima... Mas, afinal, algum dia ele estará no clima para assistir um romance?
Depois tenho que ler o Contardo Calligaris dizendo que os romances da vida real não são como nos filmes românticos. E daí? Deixe-me sonhar com o que não existe. Afinal que eu saiba a vida dos homens também não é um filme de ação ou de aventura. Pelo menos nunca vi nenhum homem que sobreviveu de alguma missão impossível.
E quando acaba o filme eu chego a concluir que a vida é o que acontece entre um filme e outro, no intervalo do meu sonho de repetir cada cena na vida real.
Aliás a vida é o filme mais interessante que existe, porque é a gente que faz. E desse filme eu não posso reclamar, é meu!
Por que quando estamos na fila eu fico com dó dele assistir um romance se ele já tinha concordado em me deixar decidir dessa vez?
Por que depois de ter a feito a besteira de ceder e assistir o filme dele eu fico com vontade de ir embora antes do filme terminar e prometo a mim mesma que jamais farei isso de novo?
Só que nem eu mesma acredito e me justifico dizendo (a mim mesma) que de nada adianta assistir um romance sem estar no clima... Mas, afinal, algum dia ele estará no clima para assistir um romance?
Depois tenho que ler o Contardo Calligaris dizendo que os romances da vida real não são como nos filmes românticos. E daí? Deixe-me sonhar com o que não existe. Afinal que eu saiba a vida dos homens também não é um filme de ação ou de aventura. Pelo menos nunca vi nenhum homem que sobreviveu de alguma missão impossível.
E quando acaba o filme eu chego a concluir que a vida é o que acontece entre um filme e outro, no intervalo do meu sonho de repetir cada cena na vida real.
Aliás a vida é o filme mais interessante que existe, porque é a gente que faz. E desse filme eu não posso reclamar, é meu!
6 de out. de 2008
Pride - A História de Jim Ellis


Há mais de 30 anos ele treina garotos e garotas na periferia da Pensilvânia.
Por causa deste trabalho muitos de seus atletas conseguiram bolsas de estudo nas melhores universidades dos Estados Unidos, vários participaram de eliminatórias pré-olímpicas.
A inspiradora história deste carismático professor deu origem ao filme: "Pride - O Orgulho de uma Nação".
Chorei logo na primeira cena.
Um homem que soube superar o preconceito para despertar o valor inestimável presente em cada ser humano. Recomendo!
2 de out. de 2008
Mais Ensaio sobre a Cegueira
Passa o tempo e o filme "Ensaio sobre a Cegueira" fica cada vez mais vivo para mim. Em diversos momentos do dia sou remetida a cenas e experiências.
Minha amiga Renata fez o favor de me enviar esse trecho da coluna de Contardo Calligaris sobre o filme:
“ ... em quase todas as narrativas apocalípticas, a contraposição de retidão e bestialidade é o sinal de uma liberdade quase absoluta, angustiante: o fim do mundo é um bívio sem leis, sem flechas, sem compromissos, onde qualquer um pode escolher o horror ou a esperança. A oposição caricata dos bons e dos ruins expressa a incerteza do espectador, do leitor e do autor: "Você, se, por uma misteriosa epidemia, o mundo ficar cego, se o reino da lei acabar e começar a idade da luta pela sobrevivência, de que lado estará? Do lado dos que inventarão novas formas de abusos ou dos que descobrirão novas formas de respeito e de vida comum? Uma vez perdida a visão, o que você enxergará no seu vizinho: mais uma mulher para estuprar e um otário para explorar ou um irmão, perdido que nem você?"
No "Ensaio sobre a Cegueira" (de Meirelles e de Saramago), diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema.
São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua "honra". São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade (em cenas memoráveis: a das mulheres lavando o corpo da companheira espancada à morte e a das mulheres no chuveiro).
Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida”.
Minha amiga Renata fez o favor de me enviar esse trecho da coluna de Contardo Calligaris sobre o filme:
“ ... em quase todas as narrativas apocalípticas, a contraposição de retidão e bestialidade é o sinal de uma liberdade quase absoluta, angustiante: o fim do mundo é um bívio sem leis, sem flechas, sem compromissos, onde qualquer um pode escolher o horror ou a esperança. A oposição caricata dos bons e dos ruins expressa a incerteza do espectador, do leitor e do autor: "Você, se, por uma misteriosa epidemia, o mundo ficar cego, se o reino da lei acabar e começar a idade da luta pela sobrevivência, de que lado estará? Do lado dos que inventarão novas formas de abusos ou dos que descobrirão novas formas de respeito e de vida comum? Uma vez perdida a visão, o que você enxergará no seu vizinho: mais uma mulher para estuprar e um otário para explorar ou um irmão, perdido que nem você?"
No "Ensaio sobre a Cegueira" (de Meirelles e de Saramago), diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema.
São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua "honra". São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade (em cenas memoráveis: a das mulheres lavando o corpo da companheira espancada à morte e a das mulheres no chuveiro).
Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida”.
1 de out. de 2008
Ensaio sobre a cegueira
Assisti ao filme "Ensaio sobre a cegueira". Para mim é um filme fabuloso!
Muitas vezes cheguei a pensar "Como pode que tanta gente que conheço não tenha gostado?"
Obviamente não é um filme comercial, divertido, bobo. É um filme pesado, chegou a me doer os ombros como se fosse algo que eu também estivesse carregando junto com os personagens. Considerei muito real, muito próximo. A situação matafórica parecia estar acontecendo, tudo me pareceu extramamente verossímel. Nossa!
Quando entro demais nos filmes demoro a voltar. Saio viva do cinema (claro!) mas parece que vivi aquela experiência. É esquisito e chega a incomodar um pouco... Considero um filme imperdível, repleto de significados, mensagens. Pena que poucos olhos não estejam cegos. Só pode assistir quem consegue ver.
Muitas vezes cheguei a pensar "Como pode que tanta gente que conheço não tenha gostado?"
Obviamente não é um filme comercial, divertido, bobo. É um filme pesado, chegou a me doer os ombros como se fosse algo que eu também estivesse carregando junto com os personagens. Considerei muito real, muito próximo. A situação matafórica parecia estar acontecendo, tudo me pareceu extramamente verossímel. Nossa!
Quando entro demais nos filmes demoro a voltar. Saio viva do cinema (claro!) mas parece que vivi aquela experiência. É esquisito e chega a incomodar um pouco... Considero um filme imperdível, repleto de significados, mensagens. Pena que poucos olhos não estejam cegos. Só pode assistir quem consegue ver.
5 de ago. de 2008
Orquestra dos Meninos
Adoro filmes inspirados em professores e que mostram um pouco da realidade escolar. Se for baseado em fatos reais, melhor ainda.
Espero que Orquestra dos Meninos seja um sucesso!
Espero que Orquestra dos Meninos seja um sucesso!
4 de ago. de 2008
Dilema Moral
Enquanto na política as pessoas se vendem em troca de cargos e dinheiro na favela é preciso se vender para o tráfico em troca de ter a própria vida. Sem dignidade, mas vivo. No caso dos políticos é "sem dignidade, mas rico".
Não quero generalizar. Digamos que seja o que aconteça na maior parte dos casos. Ainda tenho esperança de almas honestas seja na favela ou na política. O problema é quando a honestidade se contrapõe a vida... Não garanto que continuaria honesta se isso me custasse a minha própria vida... (Por isso chorei tanto assistindo ao filme "Era uma Vez...". Em filmes de Hollywood choro porque aqueles romances não existem. Neste filme chorei por aquela tragédia existe).
Na coluna de Contardo Calligaris na Follha de S. Paulo, na quinta passada, ele expôs um dilema moral do filme "Batman - O cavaleiro das trevas". Ainda não assisti, mas mesmo assim tentarei descrever em minhas palavras.
Dois navios, cada um com 200 passageiros. Ambos com material explosivo que será acionado em determinado horário. A única forma de se salvar é explodir o navio oposto antes do horário. Para viver é preciso matar os passageiros do outro navio. Para continuar digno e inocente os dois navios são explodidos e todos morrem, e ainda corre-se o risco de ser morrer por uma explosão acionada pelo outro navio. Fica a pergunta: Você prefere morrer inocente ou viver assassino?
Não quero generalizar. Digamos que seja o que aconteça na maior parte dos casos. Ainda tenho esperança de almas honestas seja na favela ou na política. O problema é quando a honestidade se contrapõe a vida... Não garanto que continuaria honesta se isso me custasse a minha própria vida... (Por isso chorei tanto assistindo ao filme "Era uma Vez...". Em filmes de Hollywood choro porque aqueles romances não existem. Neste filme chorei por aquela tragédia existe).
Na coluna de Contardo Calligaris na Follha de S. Paulo, na quinta passada, ele expôs um dilema moral do filme "Batman - O cavaleiro das trevas". Ainda não assisti, mas mesmo assim tentarei descrever em minhas palavras.
Dois navios, cada um com 200 passageiros. Ambos com material explosivo que será acionado em determinado horário. A única forma de se salvar é explodir o navio oposto antes do horário. Para viver é preciso matar os passageiros do outro navio. Para continuar digno e inocente os dois navios são explodidos e todos morrem, e ainda corre-se o risco de ser morrer por uma explosão acionada pelo outro navio. Fica a pergunta: Você prefere morrer inocente ou viver assassino?
Morgan Freeman
Puxa, Morgan Freeman sofreu um acidente de carro e seu estado de saúde é grave.
Embora a notícia seja desagradável lembrei que quero muito assistir ao filme Banquete de Amor. Tinha me esquecido.
Às vezes leio críticas ou assisto a traillers de filmes que me tocam depois eles se perdem na minha memória. Sei que por conta disso, é inevitável, já deixei de assistir a filmes indispensáveis que jamais saberei ao certo que significado teriam em minha vida.
Embora a notícia seja desagradável lembrei que quero muito assistir ao filme Banquete de Amor. Tinha me esquecido.
Às vezes leio críticas ou assisto a traillers de filmes que me tocam depois eles se perdem na minha memória. Sei que por conta disso, é inevitável, já deixei de assistir a filmes indispensáveis que jamais saberei ao certo que significado teriam em minha vida.
1 de ago. de 2008
Era uma vez...
Voltei do cinema quase agora, sem fôlego. Chorei tanto. Preciso pensar e escrever sobre o assunto com mais calma amanhã. Amei o filme "Era uma vez"!
Boa noite!
Boa noite!
22 de jul. de 2008
16 de jun. de 2008
Crítica do filme
Amei essa crítica: do filme.
Em especial este trecho: Dizer que o filme além de belo traz uma profunda reflexão sobre nosso papel na sociedade também seria apenas tocar a superfície de “Na Natureza Selvagem”. Mas nesse ponto acaba a crítica cinematográfica e começa a filosofia, então prefiro deixá-los com o filme e com suas próprias reflexões.
Escrita por Gustavo Catão.
Em especial este trecho: Dizer que o filme além de belo traz uma profunda reflexão sobre nosso papel na sociedade também seria apenas tocar a superfície de “Na Natureza Selvagem”. Mas nesse ponto acaba a crítica cinematográfica e começa a filosofia, então prefiro deixá-los com o filme e com suas próprias reflexões.
Escrita por Gustavo Catão.
Na Natureza Selvagem

Ele tinha a vida pela frente, boas notas, carreira, família.
Ele achava a sociedade injusta, incoerente, irracional.
Queria ir em busca da natureza humana. A natureza selvagem.
Foi capaz de abandonar tudo para se perder em um caminho e conseguir se encontrar.
O filme "Na Natureza Selvagem" revela o que a alienação tenta mascarar.
Fui tocada, mexida, atingida... Saí do cinema respirando e me sentindo sem fôlego. Eu tinha o oxigênio do cérebro e pulmões, mas a alma estava sem ar.
Ainda não digeri esta história baseada em fatos reais.
11 de jun. de 2008
Fernando Meirelles e Saramago
Há algum tempo a Folha Ilustrada, suplemento do jornal Folha de São Paulo, publicou um artigo escrito pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Meirelles, que ficou conhecido mundialmente pelo filme "Cidade de Deus", lançou recentemente em Cannes "Ensaio sobre a Cegueira", uma adaptação da obra de José Saramago. No artigo que me deixou com olhos marejados ele descreve o nervosismo e a ansiedade que permearam a exibição do filme para o escritor.
Neste link é possível assistir em vídeo a cena descrita.
Aqui o texto que me comoveu:
Por Fernando Meirelles
Depois de uma semana que pareceu uma verdadeira montanha russa emocional, saí de Cannes no sábado e fui para Lisboa mostrar o filme “Ensaio sobre a Cegueira” para o autor da história, José Saramago.
Por meses, antecipei o quanto a sessão me deixaria ansioso _e não estava errado.
Infelizmente, o cine São Jorge, que nos foi reservado, não tinha projeção digital, então foi improvisado um sistema para passarmos nossa fita. Pensei em desistir de mostrar o filme ao ver um teste da projeção, mas o escritor já estava na sala de espera e, em respeito ao compromisso, achei melhor ir em frente.
Sentei-me ao seu lado, expliquei aos poucos amigos presentes que só havia legendas em francês e começamos a ver o filme. Sofri cada vez que uma imagem não aparecia ou que uma música mal soava. Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma.
Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam.
Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: “Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever ‘O Ensaio sobre a Cegueira’”.
Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua.
Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa. Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente.
Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito. Comentou algumas imagens que o emocionaram especialmente e disse ter achado o nosso Cão das Lágrimas muito doce; preferia que fosse mais agressivo.
Quando lhe contei sobre as críticas favoráveis e contrárias ao filme em Cannes, incluindo a da Folha, ele imediatamente lembrou e recontou aquela historinha do velho que vem puxando um burro montado por uma criança.
Um passante vê aquilo e acha absurdo a criança estar montada enquanto um velho caminha, então eles invertem a posição. Outro passante cruza com o grupo e reclama da situação: “Como um adulto deixa uma criança a pé enquanto vai confortavelmente montado?”. Então, os dois montam no burro, mas alguém acha aquilo uma crueldade com um animal tão pequeno.
Finalmente, resolvem ambos carregar o burro nas costas, até que outro passante observa como são estúpidos por carregar o animal. E, enfim, o velho decide voltar para a primeira situação e parar de dar importância ao que dizem.
“É isso que faço sempre”, concluiu o escritor.
Acabo de deixar José Saramago e sua mulher no Ministério da Cultura de Portugal, onde está sendo exibida uma retrospectiva de seu trabalho e sua vida.
Houve uma pequena coletiva de imprensa ali, depois de visitarmos juntos a exposição. Meu filminho de menos de duas horas me pareceu muito insignificante ao ser colocado ao lado daquela obra de uma vida inteira.
Neste link é possível assistir em vídeo a cena descrita.
Aqui o texto que me comoveu:
Por Fernando Meirelles
Depois de uma semana que pareceu uma verdadeira montanha russa emocional, saí de Cannes no sábado e fui para Lisboa mostrar o filme “Ensaio sobre a Cegueira” para o autor da história, José Saramago.
Por meses, antecipei o quanto a sessão me deixaria ansioso _e não estava errado.
Infelizmente, o cine São Jorge, que nos foi reservado, não tinha projeção digital, então foi improvisado um sistema para passarmos nossa fita. Pensei em desistir de mostrar o filme ao ver um teste da projeção, mas o escritor já estava na sala de espera e, em respeito ao compromisso, achei melhor ir em frente.
Sentei-me ao seu lado, expliquei aos poucos amigos presentes que só havia legendas em francês e começamos a ver o filme. Sofri cada vez que uma imagem não aparecia ou que uma música mal soava. Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma.
Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam.
Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: “Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever ‘O Ensaio sobre a Cegueira’”.
Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua.
Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa. Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente.
Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito. Comentou algumas imagens que o emocionaram especialmente e disse ter achado o nosso Cão das Lágrimas muito doce; preferia que fosse mais agressivo.
Quando lhe contei sobre as críticas favoráveis e contrárias ao filme em Cannes, incluindo a da Folha, ele imediatamente lembrou e recontou aquela historinha do velho que vem puxando um burro montado por uma criança.
Um passante vê aquilo e acha absurdo a criança estar montada enquanto um velho caminha, então eles invertem a posição. Outro passante cruza com o grupo e reclama da situação: “Como um adulto deixa uma criança a pé enquanto vai confortavelmente montado?”. Então, os dois montam no burro, mas alguém acha aquilo uma crueldade com um animal tão pequeno.
Finalmente, resolvem ambos carregar o burro nas costas, até que outro passante observa como são estúpidos por carregar o animal. E, enfim, o velho decide voltar para a primeira situação e parar de dar importância ao que dizem.
“É isso que faço sempre”, concluiu o escritor.
Acabo de deixar José Saramago e sua mulher no Ministério da Cultura de Portugal, onde está sendo exibida uma retrospectiva de seu trabalho e sua vida.
Houve uma pequena coletiva de imprensa ali, depois de visitarmos juntos a exposição. Meu filminho de menos de duas horas me pareceu muito insignificante ao ser colocado ao lado daquela obra de uma vida inteira.
21 de mar. de 2008
Crash - No Limite

Assisti ontem. Como cinema é belíssimo, inteligente, forte e delicado ao mesmo tempo. Como mensagem traz um olhar diferenciado e uma reflexão pertinente sobre o preconceito.
Ontem durante o lanche na Maria Cereja vi crianças de rua passarem na calçada. Elas também me viram dentro da enorme janela de vidro. Fiz o que sempre faço ao ver qualquer criança, sorri e acenei. Não resisti, joguei beijos. Foi o suficiente para que elas voltassem e se posicionassem sorrindo diante do vidro. Eu, adulta, dentro da redoma. Elas, crianças, expostas fora do vidro. Senti que aquele carinho tão frio, que transmiti à distância, tinha sido para elas raro e único. Nada pude fazer, ou se pude não fiz. Esse limite que desagrega as pessoas parece intransponível, não é só uma vitrine de onde vemos e somos vistos, é uma cortina que estendemos tampando a visão da realidade. As crianças foram gentilmente tiradas de frente da janela pelos seguranças. Correram dando risada como se tudo fosse uma brincadeira. Para elas era, para mim não.
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