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17 de nov. de 2008

Vovó Idalina

Ela esteve aqui.
Foi uma passagem longa, de anos nada curtos, mas acho que queria ficar.
O tempo foi remoendo seus ossos, estancando os movimentos e mesmo a alma tão dançarina, tão risonha, sentiu-se em um prisão. A prisão de um corpo esguio, de uma pele macia e flácida. Ela já tinha sido muito flexível, adorava exibir a posição dos braços alongados nas costas. Agora sentia dor.
Ela amava a natureza. Flores com perfume que se espalhava pela casa. Mas o seu perfume tinha cheiro de café. Gostava de regar as plantinhas até vê-las florescer. Gostava de vasos com terra fértil para enfeitar o quintal da casa.
Lembro-me do quanto gostava de animais, gatos, chegou a criar bicho-preguiça. Mas eu não tinha nascido ainda. Só participei da fase dos gatos. Combinavam com ela. Manhosa, doce...
As suas histórias contavam sobre o sofrimento. Resmungava bastante. A velhice também lhe trouxera a leveza de sorrir, a sensibilidade de tocar e fazer carinho na face de quem a visitasse. Os olhos já estavam traiçoeiros, não enxergavam mais as mesmas imagens. Os ouvidos também estavam se poupando do barulho. Somente os gritos ela podia escutar. Em uma madrugada minha vozinha despediu-se da Terra. Fazia dias, semanas, que ela estava distante em seu olhar recluso da vida...
Idalina, uma rosa cristalina, uma mulher menina, "um coração de ouro, de esmeralda, de diamante"* a minha avó.
*Ela me chamava assim quando falava comigo ao telefone, eu retribuía da mesma forma, assim juntas criávamos jóias, das mais valiosas, para ilustrar o coração que batia em nosso peito.

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