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31 de jan. de 2010

Em uma manhã que eu não poderia descrever (continuação da parte 2)

(Para melhor entendimento leia os anteriores, é uma continuação)
Quando entrou na sala tudo era novo. Somente as pessoas eram as mesmas. A novidade estava presente no que não se vê. O clima era outro. O semblante sério dele agora lhe sorria, ainda que não fosse exatamente para ela que aquele sorriso se destinasse. Seu pai sentado ali, falante e ele o observando com olhos atentos. Ela ficou tentando ser suficientemente transparente para que não interrompesse a conversa e, ao mesmo tempo, vistosa para que ele a notasse mesmo em silêncio. Ouvia seu pai contar as mesmas histórias de sempre. Apesar de repetitivas era como se fossem únicas porque ele não deixava de vibrar nem por um segundo, em cada trecho que lembrava. Era isso que encantava as pessoas e até mesmo a ela que já tinha ouvido tantas vezes.

- Tem mais uma que eu gostaria de contar mas não posso.
O pai disse isso e se virou para ela com um sorriso maroto. Depois continuou:
- É que minha filha está escrevendo um livro e ela vai querer contar esta história nele.

Na hora ela percebeu. Era extremamente incomum que o pai fizesse isso. Contudo era também extremamente claro que seu pai queria chamar a atenção dele para ela. E conseguiu. Pelo menos foi o que ela sentiu na hora, quando ouviu:

- Ah, é? Então você está escrevendo um livro?

O sorriso dele agora era para ela. Tudo se aqueceu por dentro e uma alegria quase borbulhante tomou conta do corpo. Sentiu corar a pele do rosto e também sorriu ao dizer que adorava escrever e que realmente tinha este projeto.

- Vou querer ler esse livro, hein!?

Pronto. O vínculo estava firmado. Algumas de suas palavras seriam lidas pelos olhos dele. Em algum momento da história do mundo o olhar dele tocaria suas palavras e para ela seria o mesmo que dedos tocando sua carne ou acariciando a sua alma. Naquele instante passou a sonhar com o dia em que poderia mostrar-lhe aquilo que dela mesma era mais fiel a quem ela era. Nada poderia ser seu retrato fotográfico mais exato que os textos nos quais depositava todo seu ser. Um dia ele ia ler tudo. Porque aquela frase solta na conversa era um pedido que ele fizera ao universo. Algo involuntário, mas Deus caminha nas palavras. Sons emitidos são promessas, compromissos que se concebem cedo ou tarde. Ela não sabia que seria tarde. Tarde para o que ela sentia tão cedo...

Ele se demorou muito mais tempo que o usual para atender um paciente. Algo aconteceu naquela sala e ela diria que somente ela mesma tinha percebido, se seu pai não lhe confidenciasse alegremente quando saíram:

- Filha, ele é para você. É este, filha!

Pai e filha riram, cúmplices no que tinham constatado. Felizes.

Era como se ela tivesse esperado por aquele encontro a vida toda. Sentia um misto de alívio e euforia por tê-lo encontrado, como se até ali o tivesse procurado por todos os lugares que passara antes. Como se o encontro fosse lhe arrancar a angústia de sentir-se só, desamparada. Como se fosse a garantia de que se sentiria completa, dali para frente. Muita utopia continha em seu sentimento. Só o tempo lhe traria o quê, entre tudo aquilo, se tornaria efetivamente verdade.(Continua)

2 comentários:

VIVI disse...

MAKTUB****
ESTAVA ESCRITO....
BJOCAS
VIVI

Anônimo disse...

Olá...comecei a seguir vc por um acontecimento do destino, e depois me "encantei" com sua forma de expressar sentimentos, e hoje acabo sendo uma seguidora de suas palavras, mesmo que anônimo.
Torço muito pela sua felicidade!!!

Que vc continue sendo sempre essa pessoa iluminada!!!

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