A matéria em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, escrita para a Revista Com Classe, está logo aqui, em primeira mão:
Ser mulher com classe não é terminar o dia sem molhar a escova progressiva ou a camisa de suor. Ser mulher com classe é superar obstáculos profissionais e segurar as lágrimas quando as dificuldades apertam. Ser mulher com classe é sentir e racionalizar as decisões, é pensar com o coração e agir com o instinto, é trabalhar muito e não deixar que os filhos sintam falta de afeto, é deixar de comprar algo para si para oferecer mais para a família. Ser mulher com classe é desafiar o tempo e as 24 horas do dia com tantas atividades e responsabilidades. Ser mulher com classe é saber ser feminina e delicada até mesmo dando ordens. Ser mulher com classe é fugir da auto-piedade e orgulhar-se muito de ser mulher.
Escolhemos quatro histórias de vida de mulheres com muita classe que podem inspirar você.
Mulher aos 20
Quando nasceu foi desenganada pelos médicos. Talvez não chegasse a viver. Se vivesse não andaria. Ler e escrever seriam tarefas impossíveis.
A sentença abriu uma imensa fenda no coração dos pais. Na época dois jovens sofrendo com a possibilidade de perder a única filha mulher. Mas Valéria ainda surpreenderia o casal com sua alegria de viver e a sensibilidade além da conta. Ela não tinha nada a menos que as outras crianças, apenas um cromossomo a mais e, por isso, o que a medicina chama de “Síndrome de Down”.
Cada passo de Valéria foi sonhado muitas vezes antes de acontecer. Sim, a menina aprendeu a andar superando as previsões mais otimistas. A mãe não desistiu de ensinar-lhe a ler e criou o próprio método. Colava a letra “A” no armário, “C” na cadeira e “M” na mesa. Transformou a casa em um alfabeto. Os desafios de Valéria que começaram no primeiro dia de vida chegaram ao primeiro dia de aula. Ela freqüentou a escola, enfrentou os amigos, o preconceito, porque ser diferente não é fácil.
Hoje Valéria tem 29 anos, namora Sérgio, trabalha como orientadora disciplinar no Colégio Progresso Centro, freqüenta aulas de canto, de dança e de computação. É um exemplo de sensibilidade que ensina a “vida” em cada contato. Ensina, muito mais que aprende, embora tenha aprendido com alguma dificuldade a andar, ler e escrever. Hoje são seus “alunos” que tem dificuldade em “aprender” aquilo em que ela é perita: amar.
Dizem que as pessoas amam o poder, porém os portadores da síndrome de down tem o poder de amar.
Mulher aos 30
A infância foi humilde, ajudava a atender os clientes do bar de propriedade de sua mãe. A adolescência foi rebelde. Somente depois de se formar em Direito quando já trabalhava em um conceituado escritório de advocacia da cidade que Renata da Rocha percebeu que aquilo não era para ela. Pensava na justiça injusta cuja qual estava exposta na profissão. Abandonou o emprego. Para continuar trabalhando resolveu se aventurar lecionando em uma escola. Estar ali em contato com a educação fez com que reencontrasse o prazer pela ciência que escolhera. O Direito passava a lhe apresentar novos matizes, novas possibilidades, novos sonhos. Escolheu o mestrado em Filosofia do Direito. Desenvolveu uma dissertação polêmica sobre as pesquisas com células tronco. O tema não só a fez tirar dez com louvor na defesa como se tornou um livro que faz parte da bibliografia básica do mestrado do Mackenzie e chegou a ser citado no voto de um dos ministros do supremo tribunal federal.
Aos 35 anos, Renata ainda tem muito a alcançar. Faz doutorado, pertence aos mais seletos grupos de pesquisa em filosofia do direito, ministra palestras por todo o Brasil, participou de outras obras jurídicas, entretanto seu maior prazer continua sendo subir em um tablado diante de um grupo de pessoas para lhes ensinar o que ela sempre sonhou: um pouco de ética, moral e justiça.
Mulher aos 40
Alzira poderia ser confundida com uma menininha. Pequena e delicada parece uma adolescente se vista pelas costas com os cabelos longos de fios dourados. Os olhos azuis são os mesmos que educaram crianças durante mais de 20 anos e guardam uma fragilidade que não se percebe se a virmos coordenando uma equipe de professores, atendendo pais ou abraçando um aluno.
Os anos de sala de aula lhe deram a experiência necessária para assumir a coordenação de uma escola desafio que enfrentou com mais alegria que medo. Foi inevitável. Remeteu-se ao início de tudo, a recém-formada que trabalhava para pagar o estudo... Agora enfrentando também a dificuldade de criar a filha sozinha, sustentar a casa e ainda arrumar algum tempo para cuidar de si.
Embora os olhos azuis ocultem a delicadeza, que os fazem lacrimejar muitas vezes por diferentes motivos, eles tem mostrado cada dia mais a força e a coragem que Alzira lapidou involuntariamente simplesmente por não desistir.
Mulher aos 50
Élide era só uma adolescente de 14 anos quando começou a fazer sucesso na escola decifrando o passado, presente e futuro dos colegas e dos professores. O que era uma brincadeira para a menina foi se tornando coisa séria. Os conselhos realmente eram pertinentes e se confirmavam. Assim que os pais evangélicos descobriram a proibiram de continuar fazendo aquelas “premonições”. Esta sensibilidade ficou adormecida e latente em seu âmago.
Aos 18 anos, já casada, escolheu a psicologia porque supôs que era a profissão adequada para quem sentia tanto prazer em ouvir as histórias dos outros e ajudar. Já na faculdade seu talento foi logo percebido pelos professores, simultaneamente fazia cursos e em pouco tempo começou a atender pacientes. Nesta época sua vida pessoal passava por um turbilhão de problemas. Aos 30 anos ela já estava separada e com dois filhos pequenos para criar. Enfrentou tudo com a garra e sabedoria que estava acostumada a ensinar aos pacientes.
Hoje, com os filhos criados, encaminhados, Elide se orgulha de ser para eles uma referência e um exemplo. Continua com o mesmo sorriso e olhar contagiantes que atraíam as atenções para o que ela dizia desde a adolescência, através de sua sensibilidade aflorada sobre o ser humano. Faz isso profissionalmente há mais de 25 anos e muitas vidas agradecem por serem iluminadas em seu consultório.
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