Às vezes acho que o que escrevo soa extremamente bobo, ingênuo, pueril... Fico envergonhada. Nem todos os olhos adultos tem a doçura necessária do não-julgamento.
A vida me fez crescer em doses homeopáticas externamente, mas aos trancos internamente (emocionalmente). Amadureci o intelecto antes da prática. Lembro de ter 3 anos e responder 5 quando me perguntavam. Eu queria ser mais velha para ser respeitada. Ser criança era ser excluída das conversas. Meus pais menos, meus tios mais. Recordo nitidamente de suas vozes: "Criança não pode ouvir isso", então baixavam o tom da conversa ou me pediam para brincar em outro lugar. Dizia a mim mesma: "Mal sabem eles! Poderia muito bem participar da conversa..." Não sei se a petulância que guardava para mim era criada em casa, talvez no excesso de respeito que recebi na minha educação. Respeito nunca é demais, ou é? Meu pai se sentava em frente a mim e desabafava seus problemas do trabalho. Não descarregava responsabilidades, compartilhava, como quem divide um único pedaço de doce. Eu era parte, inclusa. Não encontrava isso nos outros adultos, nas outras casas. E sentia falta. Essa minha sede de amadurecer me deixou velha por dentro, antes do tempo. Deixei de ser adolescente por ser adulta demais, insegura demais. Os adolescentes arriscam mais, ousam mais, eu já era criteriosa, pensava no amanhã e no depois para deixar de viver o hoje. A adolescência me deixou tímida, a criança adormecia quieta, só, excluída por mim também, de tanto ser exclusa pelos outros. Então descobri que quanto mais amadureci efetivamente mais consegui ser criança, sem temer.
Pablo Picasso disse que precisou viver uma vida toda para aprender a pintar como criança. Precisarei da minha inteira também, para viver como elas... Só que ainda guardo em mim a mesma petulância e ironia diante do olhar adulto que me julga. Ainda me cobram que seja adulta para participar do mundo deles. As crianças não cobram nada, nem de mim, nem deles. Ironia!
Um comentário:
No meu blog há um texto filosófico meio difícil para quem não está acostumado, mas tenho certeza de que vc compreenderá. O filósofo acaba concluindo que somos mais crianças aos 35 anos do que na própria infância, ou seja, temos mais predisposição para aprender. Chama-se Do Curso Fiolsófico ou O Pòs-moderno explicado ás crianças (nós).
Além do mais, a senhorita me deve uma visita, pois postei uma crônica e vc nem apareceu. Estou esperando e leia o texto.
Bj,
Renata Cordeiro
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