Ele disse: "Será um almoço ou café da tarde". Só restava a ela esperar... O horário do almoço estava perto e passou, talvez ele também deixasse a tarde passar adiando a conversa, mas antes que o céu escurecesse o telefone tocou. "Estou passando para te pegar", disse ele. Ela olhou o espelho mais próximo, com o blush deixou a face pálida mais rosada e sorriu. A buzina soou e em poucos instantes já estava ao lado dele, no carro. O caminho foi curto até uma cafeteria perto dali. Nem parecia que o assunto era sério ou que tomariam alguma decisão mais drástica, por isso ela ficou tranquila e confiante, alegre até, na companhia dele.
Ele pediu um misto e suco de laranja. Conversaram trivialidades. Até que ela disse: "Então... O que você tem para me falar?"
Pausa. Vamos abrir um parênteses neste momento da história. É preciso saber que no dia anterior eles já tinham iniciado um diálogo sobre o relacionamento. Algumas palavras incitavam um suave desgaste. Tudo normal entre duas pessoas. O problema é que os relacionamentos são assim, como se fossem sustentados por uma tênue linha de estabilidade. Qualquer passo em falso, qualquer pequeno deslize ou até mesmo uma dificuldade de comunicação, que gere má interpretação e desentendimento, podem ser fatais. Aquela era uma situação típica. Podia ser apenas "mais uma conversa casual", entretanto podia também ser "a última". Dependeria da dança dos ânimos. Relacionar-se é dançar sem tocar o pé do parceiro quando não se conhece a coreografia. Esta dança pode ser um momento de extrema alegria - como são os relacionamentos - e pode também ser um desastre, afinal jamais se aprende a dançar um ritmo que sempre muda, uma música que nunca é a mesma. Como coreografar? Por isso é preciso cuidado, delicadeza, ser sutil em cada passo, verificar duas vezes se não estamos pisando em alguém, se este alguém não é justamente o parceiro. Não se pisa no parceiro... Também pelo risco de ter que dançar sozinho.
Voltando a nossa história. Ele apoiou os cotovelos e os antebraços na mesa, abaixou um pouco a cabeça perto do ombro esquerdo e levantou só o olhar. O seu olhar era terno e brilhante. Ele a admirava em silêncio enquanto pensava no que dizer. Era como se tivessem roubado todo sua força e coragem. Ela sorria como se dissesse que estava pronta para ouvir o que fosse, para suportar qualquer declaração. Abruptamente sentiu-se mais poderosa, mesmo que tivesse motivos para estar frágil e triste. A respiração dele era profunda, buscava palavras que não sentia vontade de dizer. Precisava de um tempo para entender o que sentia. Pediu esse tempo. Ela negou. Um tempo seria o fim do que tinham. Como se a tênue linha não resistisse a ausência. Em caso de ausência um dos lados não estava disposto a segurar a extremidade da linha [que mantem os relacionamentos vivos]. Ela não seguraria... Ele não estava disposto a perdê-la para sempre, queria só alguns dias, talvez horas, então segurou firmemente a sua extremidade e puxou. Ele a puxou para si, para dentro de si, era lá o lugar dela, mesmo que isso causasse medo e estranhamento. Decidiu que encontraria uma forma, uma outra forma de resolver-se sem perdê-la por um único instante. E assim os dois se mantiveram ligados, por uma tênue linha, cuja qual um sentimento profundo era capaz de passar.
Saíram da cafeteria abraçados, enamorados, como tinha de ser.
2 comentários:
Quee lindoo!! *.*
ameei esse texto!!
:)
beeijos*
Especial, conhecendo vc ele tem mais valor!
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