Se esta é a sua primeira vez neste blog leia na coluna da direita as instruções!

31 de mar. de 2010

Vapor do amor

Eu não amo publicamente,
Eu amo pelos cantos,
Porque o amor vive para mim solteiro.

Eu não amo gritando
Porque o amor ecoa em mim mudo, calado.

Eu não amo na intensidade completa, inteira.
Amo nas partes pequenas, estreitas,
Que só um amor cuidadoso demais se permite estar.

Eu amo pelas extremidades,
Não amo no equilíbrio preciso, no meio
Preciso estar fora do amor
Para percebê-lo sempre cheio.

É por isso que algumas vezes por ano
Eu simplesmente não amo.

30 de mar. de 2010

Enxergar

Às vezes é preciso fechar os olhos para que se possa ver melhor.(Aline Ahmad)

29 de mar. de 2010

Mais que uma lembrança

Por que me repito ao recontar nossa história?
Por que tanta redundância para descrever o que vive na memória?
Simplesmente para dizer que cada cena ainda me toca.

Nosso Encontro

Seu sorriso movimentou meus cílios
Resolveu chamar de frutos o futuro com filhos?
Pensei em ficar de luto ao me perceber sem estilo
Mas foi um pensamento diminuto, um pensamento andarilho...

Assim te conheci.

27 de mar. de 2010

Saudade é um bichinho

A saudade é um bichinho,
Vem me picar logo cedo, ao acordar.
Abro os olhos e lembro,
Sem sossego, porque ele longe está...

Logo mais ele chega
Vai trazer brilho no olhar
Talvez um pedaço de seda
Ou uma canção de ninar.

Logo mais ele vem
E hoje já sinto chegar
O sorriso do meu bem
Vem p'ra me visitar

26 de mar. de 2010

Acontece no que escrevo

Eu não tenho muito a dizer, a não ser que os dias continuam passando, os ponteiros giram no relógio e cada instante é um tempo que se perde, ou se ganha. Depende do que se faz com ele.

Eu escrevo mesmo sem ter o que dizer. Eu não me envergonho de ser quem sou. Deixo as palavras se formarem sem pensar. Não há problema se vão ler e não gostar.

O que eu não gosto é não escrever nada, não gosto quando me calo, porque o silêncio poucos podem ler.

Escrevo porque no meu imaginário crio leitores para minhas palavras. Eles moram em lugares distantes e precisam delas nem que seja só para passar os olhos. Às vezes, em devaneios, penso que posso mudar alguma coisa na vida deles. E que a mudança pode ser para melhor. Encantador pensar que alguém pode sorrir ou ficar mais feliz por passear o olhar em uma frase minha.

É muito sedutora a idéia de que algo do que escrevo pode ser especial para alguém que nem conheço. Mágico!

Às vezes recebo provas. Recados, comentários, e-mails. Existem mesmo essas pessoas. Eu não as vejo, pouco sei sobre elas mas as sinto.

Existe mesmo quem lê, se comove e até reflita quando passa a vista sobre o que penso.

Quem sabe à noite eu viaje por mundos que desconheço para roubar o que mora nessas pessoas. Apenas escrevo o que vive dentro delas, pode estar aí o segredo da identificação que criamos...

25 de mar. de 2010

O que somos

Alguns pensamentos enchem os olhos de brilho, outros sugam a energia...
Há fatos que nos deixam de ombros caídos, como se o fracasso já estivesse chegando e há outros com gosto de vitória...

A vida não tem só altos e baixos, não há só bipolaridade.
Viver é o que acontece entre uma coisa e outra, entre um ponto e outro...

E ainda que tudo influencie tanto quem somos e o que sentimos, a maior influência é exercida por quem somos e sentimos sobre o que vivemos.

24 de mar. de 2010

Subestimamos os problemas das crianças

Às vezes a gente subestima a complexidade dos problemas das crianças e lembra com nostalgia da infância. Normalmente isso acontece quando chegam os problemas da vida adulta. Crianças também podem se sentir (e se sentem muitas vezes) tristes, estressadas, inseguras, rejeitadas... Só que quanto mais velhos menos nos lembramos de quem fomos ou do que sofremos na tenra idade. Fica só a doçura... No meu trabalho presencio crianças que vivem situações de angústia, medo, repressão, conflito. São pequenas heroínas enfrentando a separação dos pais, brigas, desamor. Ou seja, problemas que atingem as mesmas (ou maiores) proporções dos que passam os adultos.

É um mito a idéia de que a infância é uma fase inteiramente gostosa e alegre.

Ainda assim, depois de um dia estressante de trabalho, fico com saudade da minha.

Só para justificar-me

Sono e cansaço depois de um dia cheio me deixam assim, sem forças para escrever. Mas feliz em ler os comentários que recebi hoje...
Beijos de luz,
Aline***

22 de mar. de 2010

Alguma saudade

E me perguntas se sinto saudade
que outro nome para os espaços vazios em que vivo sem ti?

Ausência da pele

Pedaço de pele...
O que é um pedaço de pele,
Se é a distância que me repele de você?
E na minha saudade você se insere.
Está inserido,marcado, vívido.
Está vivo!
Você fala comigo
Conta-me sobre rios sagrados
E banhos e templos...
Nosso templo eu construo
De palavras, para morarmos nele nus
Você trará canções mais belas
Escritas nas dunas do deserto
Em que a separação esteve presente.
Juntos cravaremos em uma árvore um coração
Com iniciais dentro
E colheremos frutos vermelhos, suculentos
Para nos alimentarmos do amor que sonho.

E sinto você sonhar comigo...

Revelo

Toda vez que o lápis toca o papel a escrita que se sucede cálida é para ti.
Como posso me negar se é essa a inspiração que tenho?
Vem fácil e nada mais a atrai.
Somente contar-te, dizer-te, falar-te.
Ou aos outros contar, dizer, falar, sobre ti...
Rendo-me ao que é quase a extensão dos meus dedos.
Rendo-me aos movimentos quase involuntários.
E sempre o que componho não diz outra coisa a não ser amor.
Não diz outra coisa a não ser o que sinto.
Por isso não minto.
É, sim, de ti que falo.

Nem mesmo seu nome calo,
Falo de ti, Paulo.

21 de mar. de 2010

Sobre a complexidade da alma

Meu corpo é viga que escreve sem sentir
Meu corpo é malha que tece sem medir
Meu corpo é músculo, pele, carne, alma
Meu corpo é conflito, saudade, calma
Meu corpo é ilha, multidão, virtú
Meu corpo é sorte, exatidão, mito
Meu corpo é luz, sonho, tenacidade
Meu corpo é tempo, velhice, saudade
Meu corpo é humano, sagrado, insano
Meu corpo é promessa, vitória, vida...

Meu corpo respira e vive.

Identidade-sorriso

Qualquer dia desses viajarei a sua procura
Buscarei seu encanto nos vazios
Nas folhas secas
Nas fissuras

Encontrei-o na abertura
Na porta cerrada que se desmanchou quando o vi
Nem o cenário, nem o tempo, nem nada
Esconderam que sorri
E que desde então nenhum outro sorriso meu
Deixou de ser motivado por aquela cena
Sob a minha ilusão você também sorria de forma serena
E desde então seu sorriso também foi meu

Entre os espaços vazios

O dia é claro
A face também
Mas a distância é escura
Porém de leve espessura

Não é preciso estar atado
Mas ter no peito um rosto guardado
Uma alma alada
É suficiente para sentir-se amada

Quando estou distante
Selo meus instantes
Com planos de beijos e abraços
Que vão se petrificar em atitudes futuras

De pensamentos que são curas
Enfeito os momentos com candura
Para não me seduzir por lamentos
Sabes que sou tua?

20 de mar. de 2010

Cabelo reencarnado

Não vou esquecer que sobre meu pensamento reinam alguns fios de cabelo branco. Olho para eles e arranco um a um os que vejo. Sempre deixo de ver outros e os que arranco também aparecem de novo. Entre meus fios escuros são como raios de luz prateada. Eu não os escondo, embora às vezes os mate. E eles revivem. Alguns estão na quarta vida. Reencarnaram.

Se só se vive uma vez.
Não se pode dizer o mesmo dos meus fios de cabelo branco.

19 de mar. de 2010

Invictus

Este é o poema que acompanhou Mandela nos 25 anos de prisão, o responsável por reafirmar-lhe a esperança e garantir-lhe a lucidez.

Poema Invictus
de William E. Henley


"Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.


Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.


Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.


Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma."

Tradução - André C S Masini

18 de mar. de 2010

Saudade

Fui ao cinema hoje assistir Invictus.
Eu me emocionei em conhecer a personalidade de Mandela.
Lembrei do meu pai. Fiquei com saudade, ele ia se identificar com filme. Eu adorei!
Sinto que, em outra esfera, meu pai também era uma inspiração para as pessoas ao redor. Isso eu ainda não consegui ser como ele...

17 de mar. de 2010

Parece e é

Parece que todas as canções de amor
São declarações do meu coração ao seu
Parece que todos os poemas que declaram o amor
São pontes para unir meu sentimento ao seu

Parece que esse céu sem cor
É o que denuncia que não sinto seu amor
Mas toco o seu olhar que é meu oásis
Enquanto estou a te esperar...

Parece que quis me aproximar
Mas longe do que é seu
minha alma não consegue mais ficar
Por isso ao seu lado sempre está

Parece que a vida fez nos encontrar
Foi para dizer que você era pra mim
E que eu era pra você

Parece que somos mesmo assim
Um feito para o outro
Eu pra você, você pra mim...

Enfim o amor, resolveu nos escolher.

Parece que amor roubou meu coração
E trouxe o seu, no lugar
Roubou o seu, porque era pra me dar
De corações trocados
Somos os dois amados
Até quando estamos separados

Parece que sinto você perto
Mesmo quando está distante
Em você eu não mais entro
Porque eu sei, já estou dentro.

E daqui você não sai
Porque o amor me disse que ainda vai,
Viver, renascer,
Em nós jamais morrer
Para fazer reviver,
Eu e você...

Pesadelo

Ontem eu e minhas irmãs estávamos conversando sobre como a morte do meu pai mexeu de maneira diferente com cada uma de nós. A Andreza contou que sonha com ele quase todos os dias, a Adelita tinha sonhado na noite anterior e eu me lembrei que nas poucas vezes que havia sonhado era sempre como se ele nunca tivesse morrido. Era como se para o meu subconsciente ele continuasse vivo e participando da família (fisicamente). Eis que na noite de ontem para hoje eu sonhei com meu pai e pela primeira vez no sonho eu sabia que ele não estava mais entre nós, embora o visse e me relacionasse com ele. Só que era como se ele tivesse morrido e ainda não soubesse disso. O sonho foi pesado. Depois minha irmã Andreza (no sonho) veio com violência para cima de mim me dizendo que eu a tinha ferido no rosto com navalha e eu também percebia que ela estava delirando tanto quando meu pai em não perceber que não estava mais vivo. Tentei convencê-la de que eu não tinha feito nada (até porque eu via o rosto dela e não havia nenhum sinal, nenhuma cicatriz, como ela alegava) e pedi para que usasse uma técnica que sempre uso quando percebo estar presa dentro de um pesadelo (eu não tinha me dado conta que era um sonho, apenas achei que a técnica poderia funcionar no caso daquele delírio). Falei: "Feche os olhos com força e depois abra, provavelmente você vai se libertar disso que está vendo", só que enquanto falei eu mesma fechei os olhos para mostrar como era e quando abri vi uma escuridão total. Falei : "Agora eu que não consigo ver mais nada, está tudo escuro!" e repeti o que tinha feito para tentar abrir os olhos e voltar a ver, só então percebi que já tinha aberto os olhos e a escuridão era o meu quarto, com luz apagada... Acordei.

Eu nunca tive sonhos premonitórios, não que me lembre, portanto acredito que os sonhos dizem muito mais sobre o meu próprio íntimo do que qualquer outra coisa. Não acho que fiz um contato com meu pai por ter sonhado com ele. O que aconteceu, na minha interpretação bem superficial, é que talvez tenha algo na minha própria vida, alguma realidade, que eu mesma não estou conseguindo enxergar.

16 de mar. de 2010

Eu ia te contar uma coisa e sei bem o que era

Faz um tempinho que quero te contar um segredo. A minha irmã, Adelita Ahmad, tem um blog.

Eu sou muito suspeita para falar mas achei de uma criatividade e profundidade sem tamanho.

Veja você mesmo e comente lá ou aqui. É só clicar aqui.

Para quem quiser acompanhar minha outra irmã, Andreza Ahmad, também tem blog. Esse aqui.

A família toda online.

E meu namorado tem escrito direto da Índia o blog Sob o céu da Índia.

Tudo imperdível!

13 de mar. de 2010

Com você

Com você eu posso ser quem sou,
Sem stress, sem revés,
Só amor

Com você eu posso ser.
Sem pensar, sem sofrer
Só ser

Com você eu posso.
Sem pedir, sem lutar,
Só poder.

Com você eu...
... Sonho, acordo, vivo...

... Com você
(13/03/2010 - 11: 55 AM)

Frases

Quando sair apague a luz e acenda o olhar. (Aline Ahmad)

Eu te daria o Sol, mas como você acorda tarde vamos ver o brilhos das estrelas! (Aline Ahmad)

12 de mar. de 2010

Despedida

Despe-se de mim
Então se despede e me pede
Eu digo sim.
Nem me pergunto onde vai
Chegou o fim.

Então que parta
Sem me partir
Então que se eleve
E não me leve
Então qu eme deixe
E não se deixe ir só porque fico
Nem se deixe mentir
Só porque minto
Que consigo deixá-lo partir
Sem abandonar o que sinto...
(12/07/2005 - 5:58 AM)

Poesia

Aqui começa o meu regresso
Um salutar deserto ingresso
No sonhar da minha escrita em verso

Aqui reúno o sonho
Seja de uma aurora distante
De um anoitecer infante
Ou de uma amanhecer tristonho...

Tudo regressa enquanto parte
Tudo começa enquanto finda
E ainda me impressiona descobrir o quanto é linda
A lágrima que parte
Essa partida tão bem-vinda

E em cada linha à tarde
Ou em manhã de inverno
Uma canção me invade
Esse céu eterno
Em um doce alarde

Uma promessa silenciosa
De uma cousa tão gostosa de se ler
Que se faz misteriosa ao se pensar
Ou se escrever
Mas se revela em rima e prosa
E denuncia-se ser do jardim a rosa
E dos pastos o capim...

Minha terapia se faz assim
Com suave destreza e mágica alegria
Nessa coisa que transcende de mim
Chamada poesia.

(escrito em 12/07/2005 - 10:47 AM)

Entre nós e as palavras

Há dois anos ouvi esse poema em um recital e me tocou tanto que jamais esqueci que precisava poracurá-lo. Hoje chegou o dia. Encontrei-o aqui. Quero compartilhar:

You Are Welcome To Elsinore
(Mário Cesariny de Vasconcelos)

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós

e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

*

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.

11 de mar. de 2010

Pipa

Meu verso se dissipa pelo ar, como uma pipa que voa sem voltar...

Eu te amo e suas maneiras

"Amar de novo" é diferente de "amar ainda". "Amar de novo" a mesma pessoa é fazer o amor renascer e recomeçar a cada dia.

Dizer a alguém: "Eu te amo, de novo" é contar de um amor que nasceu agora há pouco. É afirmar que aquele de antes não importa mais. O "eu te amo" de ontem serviu para ontem, existiu, mas o de hoje é outro.

Dizer a alguém: "Eu te amo, ainda" é contar de um amor de ontem, que se apaixonou antes e que se mantém ainda vivo.

Dizer a alguém: "Eu te amo tanto..." é diferente de dizer "Eu te amo muito!"

"Eu te amo tanto..." é para quem considera incontável e impensável o amor que sente. É para quem mal consegue expressar o sentimento doce dentro do peito. É para quem não imaginava poder se sentir assim: "amando tanto". E se "embobece" amando... Portanto, "eu te amo tanto" é um desabafo de quem fala do amor que sente pelo outro mas que fala também para si mesmo. Como uma frase que escapuliu do sentimento.

"Eu te amo muito" é para quem quer gritar e frisar o grande amor que sente no peito pelo outro. Eu te amo muito é para deixar o outro saber que é amado, e muito.

"Eu te amo tanto" é um amor delicado que se diz baixinho, quase em um suspiro. "Eu te amor muito" pode ser dito em um grito, em letras garrafais...

São tantas as formas de declarar o amor. São tantos os jeitos...

Tristes os que calam o amor que sentem, felizes os que o declaram!

10 de mar. de 2010

Frase poética

Em um dia sem idéias quero preencher este post com uma frase do poeta Sérgio Vaz: "ESCREVA POEMAS, MAS SE TE INSULTAREM, RECITE PALAVRÕES."

9 de mar. de 2010

A beleza liberta

Um dia desses me disseram que ninguém mais escreve "risos" nas mensagens instantâneas. Eu escrevo. Gosto mais de "risos" do que de "rsrsrs". Gosto mais de "hahaha" do que de "hehehe" ou "kkkkkk". É como se a minha escrita emitisse somente os sons que eu considero bonitos. Eu não acho muito bonito que a minha escrita soe como "kkkkk". Tenho essas manias. Persigo a beleza no que escrevo e a beleza me persegue. Mas não me prende. A beleza me liberta. A beleza é como um pássaro voando no infinito sem deixar rastros ou paradeiro.

Eu pagaria para que me lessem

Escrever poderia ser minha atividade principal.
Poderia ganahr a vida escrevendo, se houvessem muitos olhos dispostos a pagar para lerem o que escrevo.
Ao invés disso publico minha palavras de graça e seria capaz de pagar para que alguém dedicasse minutos preciosos de vida lendo a minha escrita. (Contanto que houvesse na leitura a mesma inteireza com a qual descrevo minha alma).

8 de mar. de 2010

O amor acontece

Voltei do cinema quase agora, fui assistir ao filme "O amor acontece"(Love happens). Além de ter achado fofo, tem cenas lindas de Seattle. Só as cenas da cidade já me deixaram emocionada. Passei quase 4 meses da minha vida lá no ano passado e para mim também foi naquele lugar que o amor aconteceu. Tenho lembranças muito mágicas da cidade. Gostei muito da cena no topo do prédio. Quem assistir vai entender. É sempre bom enxergar tudo por uma nova perspectiva.

Dia Internacional da Mulher

Muita gente sabe a origem do Dia Internacional da Mulher, mesmo assim quero compartilhar aqui a história. Recebi por e-mail do meu amigo Gustavo Prado:

"No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.
A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.
Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas)."

Fotos no twitter

A minha mais nova fútil diversão é atualizar o twitter com fotos enviadas pelo celular. Quem quiser acompanhe aqui as fotos e aqui o twitter.

7 de mar. de 2010

No deserto da distância

Meu amor vai passar 3 dias e 2 noites em um deserto na Índia...
Vai andar a camelo.
Vai enxergar o vazio do infinito.
Vai se cansar.
Vai adormecer...

A distância será a mesma,
Mas sem poder ouvi-lo parecerá mais distante.

Vivo de palavras que o telefone transmite,
Vivo de sons que acariciam a saudade.
Vivo de promessas de encontro, de abraços, de eternidades.

Vivo também com ele
Uma viagem sem passaporte para a pele
Levo o espírito ao seu encontro
Para adormecer ao seu lado em um deserto que jamais estive
Cada brisa será um beijo meu
E um céu salpicado de estrelas como os mil olhos do meu sentimento
Que guardam a sua vida para receber o meu amor.

6 de mar. de 2010

Vídeo incrível!



Esse vídeo teve mais de 8 milhões de acessos em duas semanas. É um fenômeno! Muito bem feito!

5 de mar. de 2010

Buscando-te na Índia

E nos palácios e fortes onde debruças seu olhar
Não é o meu que encontras
E nas superfícies antigas que percorrem seus passos
Não são os meus que o acompanham
Sobre ladrilhos e pedras,
Sob o céu da Índia que jamais me acolheu
Somente tu estas...
São teus ollhos, e pés, que caminham avulsos
No continente que a geografia não me permite estar agora.
É para lá que vou quando meus olhos cessam nas noites escuras
Vou ao teu encontro, amor, sem ter o endereço ou parada
E no devaneio do meu sentimento
Percorro desertos e paisagens a tua procura
Ando por margens de rios poluídos e vilas coloridas
A escutar sussurros, cantatas, de outros que se amam
E no amor que ouço encontro forças para buscar-te além do meu corpo
Por isso em minha viagem levo somente a alma
(Para encontrar a tua)
E, em nosso encontro, sei, reencontrar-me-ei
Como antes era, como amanhã será,
Como foi, como é.
O nosso amor fazendo-me renascer
Fazendo-te meu homem, e de mim: tua mulher!

Serei pouco mais que uma faísca viajante
Uma estrela bailarina solta no Universo,
E neste instante
Somente onde estiveres, brilharei.

Procure-me nas noites longas
E eu, amor, te reconhecerei,
Quando duas amêndoas esverdeadas mirarem o céu estrelado
E nos lábios houver um sorriso mais encantador que Jaipur
Saberei ter te encontrado.

4 de mar. de 2010

Coisas lindas que quero compartilhar

Essas redes sociais me permitem conhecer palavras que não chegariam a mim. E quando chegam enchem meus olhos de lágrimas pela emoção que me causam. O que faz chorar é sentir o que o outro sente. O ser humano é mesmo semelhante. A gente vive a vida do outro porque a do outro e a nossa é a mesma.
Deixo vocês com essa coluna linda da Eliane Brum que chegou a mim pelo facebook do amigo José Ruy Gandra:
Esta coluna é inteiramente sobre mim. Aviso na primeira linha, que é para nenhum leitor reclamar que estava desavisado. Se achar que não vale a pena, pode parar por aqui e pular para outra. Desde pequena, eu sonho com uma escrivaninha Xerife. Não sabia que se chamava xerife a escrivaninha dos meus sonhos. Descobri agora. Esta escrivaninha de madeira é cheia de gavetinhas e escaninhos de vários tamanhos e tem uma tampa. Quando você para de trabalhar, você fecha e ninguém sabe o que há lá dentro. Não tenho a menor ideia de onde eu possa ter visto uma dessas na minha cidade, lá no interior do Rio Grande do Sul. O fato é que eu sempre achei que essa era a única escrivaninha que um escritor poderia ter. Por causa das gavetinhas e, especialmente, por causa da tampa. É mágico. Você está lá, escrevendo, todo escancarado e, de repente, você fecha. E até chaveia. Seus anjos e principalmente seus demônios ficam lá dentro, sem risco de se dependurarem no lustre, esconderem-se em algum lugar onde você não os ache ou mesmo assombrar o resto da família. Tive várias escrivaninhas ao longo da vida, de fórmica à penúltima, toda modernosa, feita com madeira de demolição. No sábado, comprei minha última, a minha própria Xerife. Por que só agora? Porque só agora a mereci. Decidi que vou me enforcar nas cordas da liberdade. Para isso, precisava me reinventar com tudo aquilo que já era meu. Para marcar este ato, queria transformar algo da matéria volátil dos sonhos em existência concreta. A escrivaninha dos devaneios da minha infância materializou-se, com tudo de incontrolável que existe quando nos arriscamos a desentocar os sonhos – com uma vara que é sempre meio curta – e os expomos às intempéries do real. Foi um ato de profundo simbolismo para mim, que adoro rituais de passagem. Um dia antes da compra, na sexta-feira, deixei a redação da revista ÉPOCA, depois de dez anos. Poderia continuar ali por mais 20 (se continuassem me querendo, claro), mas achei que estava na hora de inventar uma nova vida para mim. Deixei Porto Alegre e a redação do jornal Zero Hora, onde trabalhei por 11 anos, em janeiro de 2000, para vir para São Paulo e para a ÉPOCA. Estava bem confortável lá. Mas há um momento que, pelo menos para mim, o conforto vira desconforto. Na ocasião, me perguntavam por que eu deixaria tanto para ir para uma cidade maluca. Eu estava em um ótimo momento. Tinha acabado de ganhar um prêmio Esso (que para os jornalistas é muito importante), tinha uma coluna de reportagem (A Vida Que Ninguém Vê) que eu amava, adorava a cidade, tinha mais amigos do que conseguia dar conta, meu próprio apartamento quitado etc etc. Eu gostava de tudo, mas estava curiosa com a possibilidade de criar uma nova história para mim. Respondia: estou indo porque não quero saber como será a minha vida daqui a cinco anos. E fui. Agora, completei dez anos incríveis na ÉPOCA. Fiz reportagens que transformaram a minha vida (e, espero, algumas outras), perambulei por Amazônias desconcertantes (elas são várias e sempre escapam), viajei pelas muitas periferias de São Paulo e testemunhei pequenos grandes milagres de gente. Hoje, sou povoada pelos personagens extraordinários com quem cruzei nesta última década. Sou uma Eliane muito mais rica agora do que quando cheguei. E tudo o que vivi dará sentido à nova Eliane que virá. Não foi uma decisão intempestiva. Ela vem acontecendo dentro – e fora de mim – há um bom tempo. Há cinco anos tenho trabalhado nas férias e finais de semana em projetos paralelos, como documentários, livros, oficinas e palestras. Queria experimentar coisas novas e abrir outros caminhos para fora de mim. Outras maneiras de estar no mundo. Tenho uma convicção comigo: temos uma vida só, mas dentro dessa, podemos viver muitas. E eu quero todas as minhas. Em 2008, comecei a escrever sobre a morte, de várias maneiras, em minhas reportagens na ÉPOCA. Olhar o rosto da morte, para mim, era desatar o nó que ainda me impedia de viver uma vida mais viva. Desde pequena, eu tenho esta característica. Quando tenho medo de alguma coisa, vou lá e faço. Quase perdi algumas partes do corpo por causa disso. E certamente perdi algumas porções invisíveis de mim mesma. Ao fazer a principal reportagem desta série, quando acompanhei uma paciente de câncer até o fim da sua vida, perdi um naco da minha alma de supetão. Levei um tempão para parar de sangrar, como quem acompanha esta coluna sabe. Mas, um dos meus muitos apelidos é “Tixa”, de “lagartixa”. Há quem faça fantasias sobre a origem dele. Mas é bem menos picante. Passei a vida deixando a cauda em sustos pelas esquinas de mundo. Sempre acabo me regenerando, ainda que leve tempo. Todos somos lagartixas em alguma medida, apenas que eu abuso um pouco dessa vantagem evolutiva. Minhas incursões no universo da morte deram-me maior clareza sobre a natureza da vida. Algumas pessoas comentavam que eu devia ter algum problema para ser tão mórbida. Bobagem. Morbidez é outra coisa. Não se fala da morte por causa da morte, mas por causa da vida. Lidar bem com a certeza que todos temos de morrer um dia, mais cedo ou mais tarde, é fundamental para viver melhor. E para compreender a natureza fugaz e preciosa da vida. A vida rugiu com mais força dentro de mim depois dessas várias reportagens sobre a morte. A última delas, que encerra um ciclo, sairá em breve na revista. Faço 44 anos em maio. Fiz uns cálculos e descobri que preciso me apressar se quiser conhecer o mundo inteiro – e eu quero. E também para escrever o tanto que sonho. Como já disse mais de uma vez, escrever não é o que faço, é o que sou. E estava na hora de comprar minha escrivaninha Xerife e mudar de cenário. Vou continuar fazendo reportagem. Apenas de um outro jeito, num outro tempo. Sou repórter até os confins da minha alma – e um pouco além. Se conseguir escrever ficção, como também sonho, só será possível pelo tanto de vida real e personagens de carne e osso que conheci nestes últimos 21 anos de reportagem. Só o real é absurdo. A ficção é sempre possível. Estou com medo, muito medo. Volta e meia choro com saudade de uma vida que já não há. Mas eu não tenho medo de ter medo. Deixo um emprego seguro, numa revista onde respeitam o que sou e o que faço, com um bom salário e todos os benefícios, para me entregar ao vazio. Sei que tudo pode dar errado, sempre pode. Mas se der, eu invento outro jeito de seguir adiante. Esta é outra convicção que tenho: prefiro fazer as coisas do meu jeito e cometer meus próprios erros. Tanto quanto os acertos, os erros também devem nos pertencer. Esta nova vida que começa hoje vem sendo construída há muito, mas só no final do ano passado descobri que a hora era agora. Não sei como foi. Nem se houve um momento exato. Lembro de dois pequenos episódios, apenas. Num deles eu corria para algum lugar com o João, meu marido, quando ele interrompeu meu passo marcial e disse: “olha”. Eu olhei para todos os lados e nada vi. Até que, com a ajuda dele, localizei uma florzinha diminuta no meio do concreto. Nós nos acocoramos e ficamos olhando o tanto de detalhes que ela tinha. Como era especial e linda e única. Aprendi isso com o João, que se esquece de tudo para passar intermináveis minutos vendo a forma de uma flor ou de uma nuvem ou de uma fatia de bolo de chocolate. Nunca vi ninguém enxergar tanta beleza no mundo quanto ele. Somos tudo o que somos. Mas as pessoas que amamos exacerbam algumas partes de nós, para o bem e para o mal. E o João tem este efeito sobre mim, de me tornar o melhor do que sou. Naquele instante, percebi que corria tanto para fazer as tantas coisas paralelas que tinha inventado, que estava esquecendo daquilo que sempre deu sentido à minha reportagem, à minha vida: estava esquecendo de olhar de verdade. O outro episódio aconteceu no final do ano. Eu estava com os meus pais na casa de praia que eles alugam a cada verão. E ficava olhando para eles. Me dava enorme prazer ver os dois se mexendo. Observar o jeito que cada um funcionava com relação a si mesmo e naquele casamento tão amoroso. (Eles andam de mãos dadas depois de 56 anos de casados e o pai dá flores pra mãe no aniversário de “conhecimento”). Num certo momento, fiquei olhando para o cabelo da mãe, o cabelo do pai, o jeito que o vento batia neles. E descobri que não podia mais continuar numa vida que eu não tivesse tempo para olhar o cabelo deles se mexendo com o vento. Quando voltei para São Paulo e para a ÉPOCA, soube que tinha chegado a hora de partir. E agora lá vou eu. Não sei bem para onde, mas sei que é para mais perto de mim mesma. Comecei então a procurar minha escrivaninha. Entrei no Mercado Livre, o site da internet que vende tudo, e coloquei na busca: “escrivaninha antiga”. E aí veio de todo o jeito e de toda época, com pés palitos, forma de bambolê, e também a minha, que descobri que se chama Xerife. Havia vários exemplares, mas gostei particularmente de duas. Uma era do Rio de Janeiro, o frete seria caro. A outra morava em São Paulo. Apostei nesta. O dono me deixou dar uma olhada nela antes de comprar. E lá fui eu na quinta-feira com o João num galpão da Barra Funda. Ela era uma escrivaninha viva. Olhei para ela, ela olhou para mim, e eu soube que era a “minha”. Como na história do Harry Potter, em que é a varinha mágica que escolhe o bruxo – e só há uma varinha, única e singular, para cada bruxo –, a minha escrivaninha era assim, minha. Nasceu antes de mim e pertenceu a outros donos porque precisava me esperar. Examinamos, eu e o João, ela inteira. E descobrimos que ela tinha mais cicatrizes do que nos prometeram. E alguns moradores indesejados. Numa das gavetinhas, havia um ninho de cupins. Nas costas, ela tinha sido quebrada em algum episódio de violência ou mau humor. Mas eu nunca fui uma boa negociante. As coisas práticas não têm muito efeito sobre mim. A escrivaninha também me receberia com mais rugas e feridas fechadas e abertas do que talvez esperasse. Nenhuma de nós nasceu ontem. Ambas queríamos – e precisávamos – nascer de novo. Aceitei as cicatrizes da minha escrivaninha como parte da história de sua vida antes de mim. E fechei o negócio. Ela queria ir embora pra casa comigo já, eu senti isso. E o João também. Mas eu ainda precisava fazer o depósito e acertar o frete. Enquanto isso, o vendedor providenciaria um exterminador de cupins. Ao contar para a Maíra, minha filha, sobre a escrivaninha, eu dizia, toda empolgada: “ela tem cupins, mas também tem uma alma dentro dela!”. Com seu senso de humor peculiar, Maíra comentou: “Se tem alma, não traz para casa!”. O problema é que eu tenho um fraco por almas. Venho de uma família de mulheres que falam com os fantasmas que vagam pela casa com a maior sem-cerimônia. Dava até pena do meu tio-avô, um homenzinho pequeno que passou a vida inventando objetos mirabolantes e deu a si mesmo um nome de passarinho. Quando ele arrastava os chinelos pelo assoalho, era despachado pela sua viúva: “Vai-te embora, Graúna, já disse que não te quero aqui!”. Para ele, a morte não mudou nada. A mulher continuava mandando em seu melancólico espectro. Hoje é o primeiro dia da minha nova vida. Tenho que fazer um rearranjo completo na minha cabeça programada em mais de duas décadas de vida de funcionária. Não sigo mais uma lógica de segunda a sexta. Posso escrever às 6h da manhã de domingo, como faço agora. E ir ao cinema no meio da tarde de segunda-feira, como pretendo. Minha semana não terá mais finais e começos. Posso ficar acordada à noite e dormir de dia. Posso almoçar à meia-noite e tomar café ao meio-dia. Posso apenas ouvir a chuva batendo no telhado. Posso permanecer olhando para o teto por horas a fio. O tempo é meu. Esta é a grande mudança. Vou perder dinheiro, segurança, carteira assinada, benefícios, férias remuneradas, décimo-terceiro. Em troca, retomo a propriedade do meu tempo. Me preparei para viver com pouco. Criei minha filha, comprei apartamento, não tenho um real de dívida. Só tenho agora que manter o meu corpinho. E ele é bem barato. Três pratos de feijão o deixam todo feliz. Mantenho esta coluna exatamente aqui onde está. Ela faz parte do meu projeto de liberdade. Queria muito continuar, não sabia se queriam que eu continuasse. A ÉPOCA e a Editora Globo quiseram. Sou grata por isso. Assim como pela forma extremamente respeitosa com que a ÉPOCA e a Editora Globo trataram minha saída e meu desejo de reinventar minha vida. Eu adoro escrever para vocês. E amo a internet. Então, toda segunda-feira estarei aqui, como sempre, logo de manhã, para pensarmos juntos sobre essa confusão que é a vida do mundo e a de todos nós. Agora, vou abrir minha escrivaninha Xerife. Estaremos, eu e ela, com todas as gavetas de nossas almas escancaradas. De peito aberto, no vazio. Vamos ver o que conseguimos fazer juntas. Torçam por mim! (Por nós!)

3 de mar. de 2010

Fabrício Carpinejar - Insista

Encontrei esse texto do Fabrício Carpinejar no blog Respingos do cotidiano . Adorei e quis compartilhar aqui. Merece ser filosofia de vida:

Insista
Sempre insista. Fale mais do que seja possível pensar. Insista.
Temos que ter a capacidade de superar as resistências.
Toda primeira conversa enfrentará uma série de inconvenientes. Mas insista.
Não recue com a gafe, com o estardalhaço, com a vergonha. Siga adiante.
Comece a rir sozinha. Rir é receber a pergunta: o que você está rindo? Rir é ser perguntado.
Não há motivo para rir, rir é se abraçar. Minha risada é meu gemido público.
Acordar me deixa excitado.Talvez aquela amiga não queira namorá-lo para não estragar a amizade.
Portanto, diga: quero hoje estragar nossa amizade. Estragar de jeito.
Arruinar nossa amizade. Corromper nossa amizade.Estrague fundo, o amor pode estar recolhido nela.
Mas não aceite tão rápido o que ela não acredita. É disfarce, vivemos disfarçados de normalzinho, de ponderado, de retraído, porque a verdade quando surge faz atitudes impensadas,
como comer algodão-doce nesta terça-feira diante de uma escola de normalistas.
Que saudades de acenar para uma freira dirigindo um fusca.
Deus é uma freira dirigindo um fusca. Tenho saudades de me exibir cortando laranjas.
As tiras simétricas, os cabelos loiros da laranjeira.
Tenho saudade de passear com a minha laranjeira.Não se explique, insista.
Eu não vou ficar esperando alguém me salvar. Eu mesmo me salvo.
Eu mesmo me arrumo para a loucura.Insista. O apaixonado cria sua boca. Cria sua boca para cada boca.
Caso tenha prometido ir atrás dele, vá.
Telefone, ainda que atrasada dois anos da promessa.
Volte atrás, não queria pensar com os olhos, a boca são olhos mais atentos.Não se intimide ao encontrar seu homem no momento errado. É sempre o momento errado.
Seja o momento errado da vida dele. Mas seja parte da vida dele.Seja o erro mais contundente da vida dele. Seja a vida do seu erro, para ele errar mais seguido.Talvez aquele amigo não converse para manter a aparência de misterioso.
Talvez ele nem saiba conversar, seja incompetente. Insista.
Uma hora ele vai tomar um porre do seu silêncio, sentar no meio-fio e falar aramaico.
Todo homem guardado uma hora fala aramaico.
Insista, esteja perto para o sermão dos pássaros no viaduto.A vida mete medo quando ela não é formalidade,
não temos como nos defender do que parte dos dentes.
Tenha um medo assombroso da vida, que é mais justo,
deixe a morte com ciúme e inveja, deixe a morte sem dançar.Não fique articulando frases inteligentes, comoventes, certas. Insista.
Sei o valor de uma fantasia, mas insista.
Tropeçar ainda é andar, pedir desculpa ainda é avançar, concentre-se na dispersão.Ninguém quer falar com ninguém. Mas insista.
Na sala do dentista, no trem, no ônibus, no elevador. Insista.
O que mais precisamos é estranheza para reencontrar a intimidade.
Não há nada íntimo que não tenha sido estranho um dia.
Seja estranho com o ascensorista, com o porteiro do prédio, com a colega.
Declare-se apaixonado antecipadamente. Depois encontre um jeito de pagar.
Ame por empréstimo.
Ame devendo.
Ame falindo.Mas não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito.
Sejamos mais reais em nossas dores.Tudo o que não aconteceu é perfeito.
Dê chance para a imperfeição. Insista.Estou cansado de me defender - sou só ataque.
Insisto.

2 de mar. de 2010

O segredo dos seus olhos

Juan Jose Campanella dirigiu o lindo filme "O filho da noiva". Sou fã, assisti várias vezes, tenho o DVD, adoro! Mas dessa vez, com o filme "O segredo dos seus olhos", ele conseguiu se superar mostrando maestria na direção e no roteiro. A história é sobre um homem que investiga um crime do passado e que o faz refletir sobre a própria vida. Tem cenas fortes e outras extremamente doces. Achei fantástico! Imperdível!
O título diz tudo. O segredo do filme está justamente no olhar, seja o olhar que esconde uma paixão reprimida ou o que pode denunciar um potencial criminoso... É na força e nas nuances dessa janela da alma que se sustentam as interpretações precisas desta película argentina.
A minha cena preferida fala sobre paixão. Aquela única, que cada pessoa tem a sua, e que a carrega pela vida toda.
Fazia tempo que um filme não me impactava tanto...

1 de mar. de 2010

Philippe Grimbert

Philippe Grimbert é um psicanalista francês autor de um romance que recentemente estava em cartaz no cinema. Eu não li o romance (ainda), nem assisti ao filme mas me interessei por assistir uma videoconferência com tradução simultânea em que pude conhecer um pouco da obra dele e especialmente deste romance "Um segredo de família".

A história autobiográfica trata do conflito e sofrimento pelo qual é submetida uma criança que tem um amigo imaginário. Em algum momento há a descoberta de que esse amigo existiu, foi seu próprio irmão desaparecido, do qual os pais escondiam a existência.

Grimbert falou que o segredo é sempre gerado por sentimentos humanos como vergonha, culpabilidade. São os sentimentos que estão na origem de um segredo. A falta de curiosidade de uma criança perante um segredo de família é como uma prova de amor aos seus pais. O ponto-chave deste acontecimento é que muitas vezes a criança repete o comportamento daquele que se oculta, mesmo sem saber conscientemente de sua existência. Clinicamente Grimbert tratou o caso de um menino delinquente que estava repetindo o comportamento de um avô que tinha sido preso no passado. Por vergonha a família sempre escondeu esse fato, era um assunto que não se comunicava em casa, só que por algum motivo o neto captou de maneira inconsciente aquele conduta que tanto se queria esquecer e a estava repetindo em sua própria vida.

"O trauma seduz as vítimas ao silêncio". (Philippe Grimbert)

Vou colocar abaixo algumas observações pertinentes da conversa com Philippe Grimbert:

*Por sentir-se culpada, por vergonha ou por medo de que não acreditem, a vítima de um trauma pode acolher-se no silêncio. É muito comum que crianças que sofrem abusos incestuosos sejam desacreditadas.

*Determinações inconscientes agem de maneira tão forte e profunda sobre a vida das pessoas que chegam a ser mais importantes que as determinações conscientes. As inconscientes podem dominar uma vida toda sem que se tenha controle sobre elas. Como acontecem com pessoas que dizem: "acabo me relacionando sempre com homens violentos" ou "todas as mulheres que me relacionei foram infiéis". Ainda que a determinação consciente seja "quero um relacionamento saudável e feliz" o inconsciente exerce uma força poderosa capaz de anulara influência consciente.

*A primeira prerrogativa para fugir da prisão que se torna a repetição de um comportamento inconsciente é questionar-se a respeito dele. Questionar é o primeiro passo para quebrar a repetição. "Por que repito o mesmo comportamento que me leva ao mesmo fim indesejado? Onde está a origem desta repetição?"

"Se não houvesse linguagem não haveria inconsciente". (Lacan)

*O inconsciente é objeto de estudo da ciência psicanálise. Lacan teve a genialidade de encontrar na linguagem mecanismos de funcionamento do inconsciente.

*Freud chamava o inconsciente de "armário".

"É importante ouvir a pergunta das crianças". (Philippe Grimbert)

*Em francês há uma expressão que pode ser traduzida literalmente para o português como "jardim secreto". Jardim secreto representa áreas de júbilo e prazer que são positivas no inconciente e que não precisam ser divididas com mais ninguém. Esta seria um aspecto positivo de um segredo, não é um peso. Há uma levez em se manter o próprio jardim secreto.

*Vivemos uma época em que tudo é dividido com as crianças. Este também não é o ideal, embora seja melhor que uma mentira. As crianças podem ser preservadas - assim como os adultos também podem se preservar daquilo que não querem contar - sem que se use mentira. É possível dizer para uma criança: "Eu não posso te falar porque seria muito doloroso para mim". Esta é uma sinceridade que permite a criança libertar-se do sofrimento de um segredo que lhe é velado, por exemplo.

*A diferença entre segredo e privacidade é que a privacidade não está no âmbito de uma informação que pode machucar alguém.

*Um diário pode ser um jardim secreto onde se compartilha consigo mesmo histórias e pensamentos íntimos e particulares.

*Às vezes se pensa que a revelação de um segredo de família para uma criança pode provocar mal quando na verdade acontece o contrário.

Philippe Grimbert publicou outros trabalhos na França. Entre eles um ensaio sobre a canção. Contou que até mesmo de dentro da barriga os humanos ouvem músicas. Há a melodia da voz da mãe, há o ritmo marcado pelas batidas do coração e até o baixo da voz do pai. A música é uma função psíquica. Grimbert teve a curiosidade de pesquisar o mecanismo que faz com que algumas canções atuem sobre o inconsciente de várias pessoas causando o sucesso.

Outro livro dele faz alusão à expressão "onde há fumaça, há fogo", chama-se: "Onde há fumaça, há Freud". É um livro sobre o cigarro que, para ele, é um substituto do bichinho de pelúcia que uma criança usa. Freud só conseguia escrever fumando nem por isso se atentou na análise desse comportamente de dependência.

Por último falou de um livro em que conta história de um homem que desenvolve uma compulsão pela compra de vestidos brancos de criança e isso vai se tornando drástico para o seu casamento.

Tempo e Luiz Felipe Pondé

Este final de semana foi intenso culturalmente. Assisti a uma videoconferência e a dois filmes. Um deles magnífico!

Na TV via alguns trechos do Café Filosófico de ontem, com Leandro Karnal, na TV Cultura e depois a reprise do programa Roda Viva com João Carlos Martins. Fiquei tão emocionada que não conseguia desligar para ir dormir. Uma pessoa que responde perguntas tocando trechos de música erudita só pode ser, no mínimo, extraordinária. Se o faz com limitação de movimentos e paixão extrema causa êxtase e enternecimento...

Queria escrever sobre tudo que aconteceu mas tenho percebido que o conflito do tempo está agindo sobre mim. Por mais que esteja me ocupando com coisas que gosto é impossível escrever sobre tudo que gostaria, o quanto gostaria, assim como não há tempo disponível na vida para ler tudo que eu gostaria de ler, assistir a todos os filmes que gostaria de assistir e viver intensamente o trabalho, o lazer, a saúde...

Resta-me definir as prioridades e me jogar no que julgo mais importante.

Desde a semana passada eu estava querendo compartilhar nete blog um artigo de Luiz Felipe Pondé escrito para o jornal Folha de São Paulo, sobre o filme "Amor sem escalas":

A vida light
Seria a vida frágil? Uma aluna me respondeu esta pergunta assim: "A vida burguesa é frágil". Esse é um erro de quem pensa que a miséria humana foi inventada pelo capitalismo. Culpa de professores, sociólogos e filósofos. O capitalismo é apenas uma face da fragilidade. Mas pensar que a vida seja frágil apenas quando é burguesa é também uma forma, ainda que chique, de se enganar.Pensar que a vida melhorou na modernidade me parece também um engano. Como me lembrou um aluno recentemente: "As soluções modernas para a vida são como remendos em feridas incuráveis" (mais ou menos isso), diria o filósofo romeno radicado na França Émil Cioran (século 20).Mas como é boa a vida das pessoas simples! Não me refiro necessariamente aos pobres, para quem café da manhã, almoço e janta resumem a esperança e o ideal do dia a dia (e nem é apenas assim, porque figuras como Jesus e espíritos afins os ajudam no dia a dia). A vida deles não me parece fácil nem um pouco.Refiro-me a quem lança mão de artifícios (valores da moda, teorias políticas, marketing de comportamento, concepções prontas de mundo e similares) para enfrentar a falta de sentido das coisas. O sentido da vida se arranca das pedras e não dos céus ou das teorias. Os lábios dos que buscam sentido estão secos como os de quem vaga por um deserto. Quer um exemplo de pessoa simples? Qualquer um que se defina diante da vida como "conservador" ou "progressista" (estereótipos).Aliás, quem se define assim, me parece, o faz por marketing pessoal, ignorância ou simples má fé. Normalmente o "progressista" se vende melhor entre pessoas "chiquinhas-cultas" e solitárias, mas o "conservador" se vende bem em igrejas, associações de raivosos e afins. O filme "Amor sem Escalas", com George Clooney, é um bom teste para ver se somos simples. Seria um filme "conservador" ou "progressista"?Condenaria ele a vida pós-moderna e seu hino ao individualismo "hard" (porque, ao final, defenderia a vida familiar e o casamento) ou, ao contrário, defenderia ele mulheres que só pensam na carreira e que fazem de seus maridos que ganham menos do que elas coitados traídos (porque elas estariam colhendo os merecidos frutos "benignos" da emancipação feminina contra séculos de opressão)?O roteiro é quase didático (digo como qualidade positiva) ao expor a insignificância desta oposição "conservador x progressista" quando se trata de narrar o estrago moderno sem qualquer possibilidade de cura ou retorno.Há um desfile de temas típicos do debate contemporâneo: família, amor, valores morais, falta de vínculos, conflito de gerações, seres humanos como mercadoria no capitalismo selvagem e impacto das mídias high-tech. Clooney é um típico pós-moderno feliz: "I like to travel light" ("gosto de viajar leve", credo pós-moderno, "viajar" aqui significa "viver"). Isto é: sem vínculos.Seu personagem, além de viajar pelo país demitindo gente (o que, no filme, marca a condição miserável da vida sob o regime capitalista), faz conferências motivacionais para ajudar as pessoas a viverem com poucos vínculos e descobrirem que essa vida "light" é a melhor.Uma mulher (como sempre, quando se trata de homens que gostam de mulheres) será o principal agente de sua queda. Ela porá o modo de vida de nosso pós-moderno bem-sucedido sob xeque-mate, juntamente com pequenos dramas familiares e mudanças no seu cotidiano de trabalho que lembram a ele sua própria efemeridade. Ela o derrotará quando ele se apaixonar e buscar vínculos. O filme destrói sua tese do pós-moderno "light" e feliz.Mas calma aí! Tampouco o filme narra a redenção do pós-moderno egoísta pelas mãos de suas irmãs ou pela "bela" vivência do amor. Ao contrário, o papel do amor aqui é de destruir a bela vida pós-moderna, sem deixar nada no lugar.Antes do amor, ele se deliciava em ser livre e sem vínculos, depois, ele vagará pelos aeroportos e hotéis como alguém que sabe que o amor faz mal: os casais podem sim ser infiéis e as famílias neuróticas, ridículas e solúveis em água. Ele já sabia disso, apenas teve a prova na carne. Mas não terá sido em vão: pequenos gestos de generosidade marcarão seu amadurecimento.Enfim, a consciência tirou de nosso herói a leveza que toda forma de ignorância carrega, mas não trouxe felicidade, como sempre. É um filme de gente grande.
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