Na minha colcha de retalhos o tecido estampado de cinza era seu, mas o colorido também era, sobretudo o azul, para quem seus olhos brilhavam mais...
Sempre disputamos a sua atenção, o seu afeto, o seu olhar, seu colo e até seu canto.
Tantas mulheres e nós ainda pequeninas, meninas que éramos abraçávamos seus passos para não nos perdermos de você no supermercado.
Cada vez que me distraia lembro-me de olhar adiante e só enxergar uma multidão de pernas que se moviam com carrinhos de compras. Qual delas seriam o seu par de longas e enormer pernas aos meus olhos de criança? Corria para elas e confesso que às vezes me confundia e agarrava as pernas erradas. Era constrangedor olhar para cima e não ver seu rosto. Em pouco tempo percebi que olhando para cima meu pescoço doía mas era mais fácil o identificar. Era tão bom me pendurar em suas pernas enquanto você caminhava. Eu ia sem esforço. Já era um peso para você, desde aquela época...
Um dia vi suas anotações e copiei em um caderno inteiro. Eu nem sabia ler. Identifiquei aquelas letras como se fossem ondas, dezenas e dezenas de "u"s lado a lado, em letra cursiva. Só depois compreendi que quando o olho não está habituado ele não enxerga ou identifica as coisas como elas são, mas como lhe parecem. E sei que ainda hoje muitas vezes me depararei com a falha ocular humana para todas as coisas que não se está habituado a olhar.
(continua acima)
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