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22 de abr. de 2009

Estádio do Morumbi

Fiquei de contar sobre minhas experiência no estádio. Foi minha segunda vez, mesmo assim foi de longe mais emocionante que a primeira. Desta vez era uma decisão entre times importantes do campeonato. Historicamente um clássico.

Misturado ao medo de uma eventual briga de torcidas havia a curiosidade diante do desconhecido... Nunca me interessei muito por futebol. Esse "amor louco" de torcedores pelo time sempre foi para mim muito mais loucura que amor, de uma forma pejorativa mesmo. Eu estava disposta a compreender mais de perto o que se passava. Que estranha atração uma camisa, um símbolo e algumas cores, manisfestavam por um enorme grupo de pessoas. Uma nação "enfeitiçada".

Civilidade Selvagem
Ter ido ao estádio não me fez admirar mais o que para mim é um desperdício de energia quase em vão. Gosto do meio mas rejeito o fim. Gosto da empolgação, das pessoas desconhecidas que se reúnem, se abraçam, da irmandade que se cria, das emoções (boas) que afloram, entretanto gostaria que tudo isso fosse motivado por algo mais lógico, mais "humano" (no sentido mais nobre da palavra). Penso nessas mesmas pessoas unidas, mobilizadas, envolvidas, por algo maior. Talvez por um futuro melhor para nossas crianças (torcendo por isso!), talvez por um mundo mais justo... Para as torcidas o futebol não é um mero entretenimento. Sinto que para muitas pessoas está bem além disso. Parece-me que é quase a vida delas. E, sinceramente, não acho que é algo que valha a pena dedicar uma vida, ou mesmo colocar em tão alto grau de importância. Por quê? A troco de quê? Da emoção, da alegria que vem grudada a irracionalidade? Quisera essa alegria estivesse grudada a outros valores tão mais carentes de atenção... Quisera fosse um tempo despendido com tão ou mais sentimento pelo próximo. Gostaria de ver multidões se reunindo com a mesma vontade por algo que inspirasse uma explicação lógica e emocional mais plausível, pelo qual valesse a pena se orgulhar. Isso sem contar a insanidade, o olhar de ódio e os xingamentos entre pessoas que não se conhecem, nunca se viram... É impressionante a vontade "civilizada" de ser "selvagem", neste caso no pior sentido da palavra...

Classes diferentes, paixões iguais
Paramos o carro bem longe, no lugar que nos pareceu mais seguro, andamos uns 15 minutos até o estádio. As pessoas vinham de todos os lados e caminhavam para a mesma direção. Quanto mais próximos chegávamos mais gente. E o que achei mais bonito: mais gente desconhecida compartilhando uma paixão, o que fazia com que todos fossem um. O que me comove é ver as classes sociais uniformizadas, equiparadas, igualadas. Não importa que o estádio segregue os torcedores em setores diferentes, a camisa é a mesma, o amor é o mesmo, e a idéia de que em algum momento, em nosso país, o rico ou o pobre, o branco ou o negro, o intelectual ou o analfabeto, esses de vidas tão díspares estão vivenciando o mesmo momento me encanta. Poderia ser por um motivo melhor, mas ainda assim me encanta. Como já disse não é o fim em si, não é para quê isso acontece, no entanto é o meio, é como acontece. E o "como" me seduz. Gosto de entoar os hinos das torcidas, gosto de unir a minha voz a voz de uma multidão, gosto de compartilhar sentimentos, emoções. Gosto de ser mais uma. De sentir-me semelhante, igual, parte.

Ser criança e não saber
Demorei algum tempo para sair da posição de observadora, de espectadora. O lugar que fiquei tinha uma visão perfeita de todo o campo. Bem do centro. Logo ao lado estava a torcida do Corinthians (eu estava na do São Paulo) e desde o início, até o final do jogo, os torcedores ficavam se olhando e se xingando, fazendo gesto obscenos, etc. Isso foi para mim exageradamente engraçado. Pude me divertir com a falta de senso de ridículo, por mais divertido que seja a travessura de xingar um desconhecido. Para mim é uma atitude que chega a ter quase uma pureza infantil. Gosto das coisas de criança e só acho ridículo porque os torcedores fazem isso sem ter noção do quanto estão sendo infantis, o que para mim não é defeito, não há nada demais, aliás é única coisa bela nesse tipo de atitude: o fato de ser uma travessura pueril. Neste sentido até me instigaria pratica-la só que consciente de ser uma bobagem e de me permitir ser criança e inconsequente. Para mim seria uma brincadeira. Até porque levar aquilo a sério seria mais ridículo ainda.

O jogo e o amor
O primeiro tempo foi todo favorável ao São Paulo. O estádio lotado provavelmente 40 mil são paulinos e apenas (no máximo) 5 mil corinthianos no pequeno espaço reservado a eles.

Eu temia minha reação ao ver Ronaldo jogando e confesso que tive que me conter para esconder a minha torcida. Eu gosto dele de forma irracional, sem saber explicar porquê e torço pela pessoa dele, não importa o time.

Cada vez que a torcida se levantava para cantar eu cantava junto e foram para mim os momentos mais divertidos, mais lúdicos.

No segundo tempo, quando o Corinthians fez 2 gols a torcida deles se inflamou ainda mais e a do São Paulo se silenciou. Isso foi decepcionante para mim. Mais que receber os gols. Eu queria levantar o time, torcer, gritar, para mim aquela era a hora que mais valia. Para isso que eu tinha ido. Um time que está vencendo não precisa da torcida. Justamente nesta hora que a torcida pode exercer a missão de torcer com mais sentido. Até porque acredito que "o amor pelo que é perfeito é um amor sem mérito". O amor mora justamente na imperfeição, é ali que ele comprova a sua existência. Amar um time que está vencendo é muuito fácil, não é amor. O amor se manifesta na adversidade, na dificuldade, ali que se descobre amor. Com essa apatia a torcida do São Paulo ficou até quase o final, muitos se levantaram e foram embora. As chances diminuíam cada vez mais. De repente uma voz foi tomando o estádio e cobrindo a torcida em êxtase do Corinthians. Os são paulinos decidiram aplaudir o time que não tinha mais chances de ganhar. Cantaram todo o hindo do São Paulo, com orgulho, isso mexeu comigo. Achei que tinha demorado, mas me tocou. Eu me identifiquei com a demonstração de apoio. É assim que penso. Eu tinha ido ali para isso. Para torcer, acontecesse o que acontecesse. E tinha algo de ainda mais belo naquela torcida e naquele canto diante da derrota. Se fosse uma vitória seria um canto evidente, previsto. Como aconteceu foi extremamente imprevisto. Saí do estádio entre pessoas que ainda cantavam e aquelas vozes invadiam as ruas e as redondezas. A mensagem iminente era a de que o amor sobrevivera...

Pontos positivos: amar, torcer, envolver-se.
Pontos negativos: que isso seja motivado tão somente pelo futebol.

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