Durante muitas noites frias um grupo de garotos se reuniu em uma quadra de Guarulhos para um treino de futsal. Liderados por um outro garoto. Na verdade um pouco menos garoto que eles, afinal os 10 anos a mais lhe conferiram uma privilegiada experiência. Experiência que carrega no olhar vívido e fulminante com que encerra cada treino, em meio a palavras que rasgam o ginásio quase vazio com sua voz rouca e cansada, depois de um dia exaustivo de trabalho.
Alguns vêm de longe, outros moram mais perto, todos buscam aquele sonho oculto nos dizeres do técnico: o sucesso, a entrega, a vitória! Medalhas cravejadas na mente ainda não são tocadas pela mão. Como únicos atrativos o encontro e a bola, essa esfera que os enlaça desenhando figuras geométricas nos lances que seus pés coreografam.
Após semanas seguindo a mesma rotina enfim o dia da estréia no campeonato. Pegam justamente um time forte e experiente e a vitória que se vislumbra no primeiro tempo se transforma em derrota no segundo. Tudo tinha sido perfeito. União de técnica e afinamento da equipe, mas na contagem de gols os adversários tinham sido melhores. Essas são as regras do jogo. Assim como na vida, nem sempre os melhores vencem, mas fatalmente os melhores vencerão.
Segundo Jogo
Dois dias depois, no horário marcado para a saída da equipe em direção a Cotia, onde seria realizada a partida, dois jogadores ainda não tinham chegado. O ônibus se deslocou sem eles. O trânsito que os esperava não permitia esperar mais.
Dessa vez o primeiro tempo termina com o time vencendo por 4 a 0. O técnico reúne os garotos e diz:
"Foco na vitória! Lembram o que sempre digo, os exemplos de times que conseguem virar o jogo mesmo quando estão perdendo? Quero que essas histórias se explodam! Porque hoje é a nossa hora de ganhar, e ninguém vai tirar isso de nós! Foco na vitória! Foco na vitória!"
Os atletas saíram "pilhados" do vestiário, olhos fulminantes como os do líder, era tudo tão certo, tão merecido que parecia que todos torciam por eles, embora não houvesse torcida presente alguma.
Para completar instantes antes do fim do jogo aparecem na quadra aqueles dois meninos que tinham perdido o ônibus para virem com o time. Sem dinheiro algum os jovens tinham se deslocado de Guarulhos a Cotia, sabe-se lá como, na tentativa de estarem presentes em mais um capítulo que escreveriam juntos. Escreveram juntos. Todos juntos. A vitória se consumou nos minutos seguintes.
Aquele técnico tinha lutado muito por aquela equipe. O vencer deles era ainda mais valoroso para ele. Mágico, raro, surreal! Olhou em cada um, lembrou dos treinos, das dificuldades, viu aqueles garotos extasiados, os dois que tinham vindo sem dinheiro e para estes disse: "Hoje vocês me emocionaram!" Tem aprendizados que nunca terminam, ele sabia disso, por isso ser técnico era algo sedutor demais. Que outra profissão o faria passar pelo mesmo sentimento? Vencer na quadra, tão ou mais doce que vencer na vida... Mas não seria aquela quadra e aquele jogo também a própria vida? Para ele sim.
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Esse técnico que tanto admiro e que também me emociona enquanto escrevo este texto com lágrimas nos olhos (talvez as lágrimas que ele não deixa cair quando me conta estas histórias, mas que ficam presentes no tom de sua voz) chama-se Eduardo Vela. E sinto muito orgulho porque o conheço e por compartilharmos juntos alguns sonhos e muitos ideais.
Um comentário:
essa história tá muito, muito linda
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