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24 de jun. de 2009

O deserto e' belo porque esconde um oasis

"Acreditamos na realidade e talvez seja so um sonho e deixamos de acreditar no sonho e talvez seja a realidade..."

Quando escrevi essa frase, ha' 5 anos, acho, eu sonhava com uma realidade distante. Era so' um sonho... Embora me parecesse muito real. Nao so' me parecia real como me parecia provavel, e ate' mesmo inevitavel.

Quando olhava o mundo a minha volta parecia que algo estava errado. Faltava alguma coisa. Como se estivesse fora de foco. E a realidade ao meu redor me parecia onirica, surreal, improvavel. Notei, entao, que a logica do meu sentimento nao seguia a logica do mundo, ou a logica daquilo que as pessoas chamam de "real", de "realidade". Mesmo assim por algum motivo oculto eu seguia acreditando na logica do meu sentimento, totalmente ilogica, talvez, mas que o tempo ajudou a dar-lhe um sentido.

Quando escrevi a frase a escrevi para alguem. Nao disse porque, nao disse o que aquelas palavras diziam nos espacos vazios entre uma letra e outra. Era alguem que me provocava. Teimava em me dizer que aquele sonho diante do meu olhar era miragem. Pois sao justamente as miragens que fazem os desertos serem belos. Saint-Exupery dizia que todo deserto e' bonito porque esconde um oasis. E como poetisa que sou eu jamais via o deserto. Poeta e' aquele que olha uma coisa e ve outra (segundo Rubem Alves). Eu olhava o deserto, descampado, seco, ate' mesmo triste, e nele eu enxergava o esguichar da agua translucida e gelada saindo de fontes submersas ou banhando a areia em forma de cascatas. Eu olhava o deserto e via o oasis. Entretanto quem apenas ve o oasis nao pode banhar-se em suas aguas, nao pode beber de sua fonte... Eu apenas via, sedenta e calorosa. Jamais deixei de acreditar no oasis, jamais deixei de acreditar no sonho, entretanto caminhar na realidade, assim como caminhar no deserto e' cansativo. As vezes ate' me esquecia que o sonho existia, que o oasis estava somente escondido e continuava oferecendo o misterio de sua beleza ate' mesmo para quem so podia imagina-lo, ainda que o tivesse esquecido.

Assim como na frase eu ja estava deixando de acreditar no sonho. Ate' que descobri: e' a realidade!

Um comentário:

Nilson Barcelli disse...

A propósito do seu excelente texto, que expõe uma visão que eu, no essencial, partilho, deixo aqui um poema que eu escrevi há dias:


Por vezes,
notamos que o canto, dantes alegre,
deixa cair uma lágrima sentida,
esquecendo que o sonho
preserva a queda
na triste elipse que nos confina
à letargia
do não existir fetal.

Também sentimos
que há momentos, sem magia,
em que não deixamos correr a meninice,
esquecendo que o tempo
não refreia a nascente
da qual provém o enorme rio da vida.

Vemos, até, que a voz,
habitualmente vibrante,
às vezes fica mortiça,
declinada, deixando de abrir prisões
que acorrentamos ao colo,
esquecendo a fuga essencial
aos medos que conservamos em naftalina
nas gavetas das nossas fragilidades.

Nessas alturas, esquecemos
que o sonho
antecipa o prazer das alvoradas
que hão-de chegar como o vento,
que de tão prometedoras
são o ar do nosso fôlego.

Mas nada de mal sucede
quando a vida, sem espartilhos,
regressa célere à ribalta do sentir,
para que resista na voz de um canto menino
que pegue nos sonhos de novo
e os chame à realidade.



Querida amiga, desejo um excelente semana para vc.
Beijo.

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