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6 de jul. de 2008

Começar de novo

Preliminar
Nunca fui esportista.
Infelizmente.
Sempre carreguei a admiração, mas não tive a influência necessária para gostar de algo que jamais demonstrei talento.
Nunca torci muito para times de futebol.
Gostava de torcer para o Brasil, nas Copas do Mundo e só.
Por causa do colégio, em que vivi e que hoje me acolhe no trabalho que exerço, me reconheci torcedora muitas vezes. Talvez o Progresso, além do Brasil, tenha sido o único time com o qual me identifiquei. Mas isso nas competições escolares.

Namorar um técnico esportivo me fez pertencer a um time quase como atleta. Ouvir os relatos sobre os treinos, acompanhar o esforço, a dedicação, a renúncia, mesmo como observadora me fez muito próxima. Mais do que pude estar em qualquer fase da vida.

Meu namorado treinou o time todas as noites com absoluta resignação da vida pessoal. Algo que chegou a me revoltar por sentir-me deixada de lado, mas que com o tempo fez-me compreender que os treinos eram indispensáveis e que faziam parte de um caminho para um objetivo final que não podia ser acovardado, diminuído, comprometido. Esse entendimento me fez apoiá-lo, encorajá-lo e, até mesmo, compartilhar de sua resignação.

Ontem
Ele acordou cedo. O jogo, a final estadual do campeonato, seria às 16h mas ofereceria aos jogadores café-da-manhã e uma série de atividades que incluíam dinâmicas, vídeos, palestras, almoço. Tudo para que na quadra estivessem prontos e plenos.

Tudo foi registrado em vídeo, documentado.

Cheguei para o jogo ciente de que a festa estava pronta. Música, papel picado para o momento da premiação, bandeiras, o mascote para animar a torcida...

A partida
"Nossa"- porque eu me sinto parte dela, mesmo acompanhando distante - equipe estava entusiasmada, cheia de garra, não se via diferença entre os jogadores titulares e reserva. Todos tinham brilho no olhar e sede de vitória. Gritavam a cada passe, aplaudiam cada acerto, como gladiadores em uma arena que pudesse lhes valer a vida. Fizeram o primeiro gol e seguros impediram qualquer chance do time adversário. Estavam em casa, prontos, preparados. Até que uma pequena falha ocasionou o empate e menos de um minuto depois outro gol. O jogo tinha virado.

Eu observava ao longe a frieza de sua expressão. Pediu tempo. Conversou com os jogadores como um verdadeiro líder, sem abalar-se, confiante, esmiuçando detalhes táticos que pudessem reverter em seguida aquele placar.

Acabou o primeiro tempo. Eu sabia que ainda íamos ganhar. Isso era certo, preciso, merecido.

No segundo tempo o gol demorou a acontecer e em cada tentativa meu nervosismo e ansiedade me castigavam. Não me sentia nem um pouco confortável em assistir aquele placar desfavorável que ficava congelado, enquanto o tempo passava.

A contagem decrescente no painel eletrônico se aproximava cada vez mais do fim. E meu pensamento começava a voar para um final mais drástico. Só conseguia ver a derrota. O que diria a ele? Como consolá-lo por algo que estava me deixando desconsolada? Fui invadida por uma tristeza insuportável e nova. Nunca antes tinha experimentado algo assim por envolvimento com o esporte. Algo que me dilacerava.

Não consegui assistir os minutos finais. Fui para o carro tentar uma concentração positiva. Odeio ser invadida por pensamentos negativos. Para mim os pensamentos atraem a realidade. Ficava cada vez mais difícil imaginar a vitória, o abraço caloroso, o sorriso extremo.

Ouvi gritos. Voltei ao ginásio e vi um de nossos jogares pronto para fazer um pênalti (no futsal tem um outro nome que não me recordo e acontece quando o time adversário comete a sexta falta). Ele beijou a bola sentindo o peso da responsabilidade, aquele chute poderia salvar tudo. Empatariam o jogo. Não pude olhar, saí de novo do ginásio. Não consigo nem mesmo explicar em palavras as sensações que me tomaram. Entrei de novo e vi que o placar continuava congelado. Precisei perguntar para confirmar que era isso mesmo que estava vendo:
- Ele errou?
- Foi na trave!
Daí para frente não me lembro de mais nada. Mas devo ter voltado ao carro, porque não lembro da cena dos segundos finais. Lembro-me de ter visto meu namorado sendo entrevistado pela TV local enquanto o outro time comemorava e os papéis picados criavam uma chuva prateada no meio da quadra. Eu só queria chorar e desafogar minha tristeza. Tem coisas que fogem. A vitória ainda estava fugindo. Parecia uma miragem que ainda era possível tocar. Mas a imagem da perda ficava cada vez mais e mais próxima, só que não nos servia. Como vestir uma roupa que não nos serve? Estava grande, larga, não nos cabia e tinha que caber, pois era o único uniforme que sobrava naquele final de jogo quando o outro time estava vestido de vencedor. A primeira sensação é a negação. "Nego que isso me pertence", no entanto não há como escolher naquele instante. O tempo não volta. Um único minuto do jogo podia não existir e seríamos campeões. Um minuto e duas jogadas que mudaram tudo. Talvez para mim isso não tivesse problema. "O importante é competir". Mas para ele só importa vencer. Admiro seu jeito de não contentar-se com menos, de almejar somente o topo. Isso me faz prever o seu futuro. Sei onde ele vai chegar.

Depois do jogo
Assim que terminou a entrevista atravessei a quadra e o abracei com o mesmo orgulho que teria com qualquer resultado, com qualquer placar, só que eu estava triste. Estava envolvida com a tristeza dele. E parecia que a tristeza dele tinha passado para mim. Ficou firme o tempo todo.

Quando entrou no carro falei:
"Tô com vontade de chorar, nunca torci tanto, nunca sofri tanto, nunca me senti assim, não entendo".
Ele sorriu ternamente com os lábios cerrados e abraçou minha cabeça me trazendo para o seu ombro.
- Pode chorar, minha linda.
- E depois de tudo você ainda tem que me consolar... Desculpe-me.
- Mas consolando você eu também me consolo.

Passamos o final da tarde e início da noite juntos e estranhei que ele não demonstrasse tristeza. Ia surgir em algum momento, quando caísse a ficha. Ao mesmo tempo achei que a minha tristeza o fazia ter companhia, amenizava sua dor.

No carro, antes de me deixar em casa olhei para ele e falei:
- Sabe, essa não era a final.
Ele me olhou com atenção sem dizer nada e continuei:
- Não era a final porque este é apenas o começo. É um começo!
Ele esmiuçou um leve sorriso e seus olhos brilharam timidamente vislumbrando o futuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu tb acredito que esse seja só um começo
adoro vocês dois!
adelita

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