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10 de jul. de 2008

Conversa aberta com Contardo Calligaris

Fiquei devendo contar sobre a palestra com Contardo Calligaris.

Foi mais uma conversa mediada por uma josnalista da Revista Marie Claire.

O meu carro saiu de Guarulhos comigo, minhas irmãs e a Re.

Pegamos senhas e após uma volta pela livraria conseguimos sentar na primeira fila.

Entrevista
A jornalista era simpática, bonita, morena de olhos claros, demonstrava segurança e inteligência nas perguntas. O tema girava em torno do livro de Contardo "O conto do amor". Leia trecho aqui. Ela disse que conheceu Contardo em uma entrevista que fez com ele para a revista. Chamou muito sua atenção o fato de que o psicnalista não tem respostas prontas. Parece que formula o raciocínio no momento da resposta e que, inclusive, a qualquer momento pode mudar sua opinião, para ela isso torna a entrevista muito mais rica, além de verdadeira. Começou questionando:

"- Como primeira pergunta: Por que é preciso ter coragem para amar?"

Contardo ficou alguns segundos pensando e isso fez a platéia rir por confirmar que a resposta realmente não estava pronta.

O primeiro capítulo do livro é auto-biográfico. Narra a última conversa de um psicanalista com seu pai. Daí em diante há uma viagem que não posso detalhar porque não li. Aliás Contardo indicou o livro "Como falar dos livros que não lemos?", cujo autor, Pierre Bayard participou com ele da mesma mesa de debates na Flip deste ano.

"- No amor, e também na aventura da vida, quanto menor a bagagem de mão, melhor. A bagagem representa o passado, aquilo que você leva, os impedimentos de viver, de aventurar-se, de amar..."

Adeus ao romantismo
Calligaris não tem mais um olhar romântico sobre a vida, não sei se é um olhar que se perdeu, que adormeceu, ou o quê. Sei que muito do que disse me entristece e me contradiz. Ainda assim admiro seu pensamento e acredito que sua crítica seja mais à um exagero da "melosidade" do amor:

"- É muito chato uma pessoa que diz 'Eu te amo' a cada quinze minutos. Ninguém aguenta!"

Pois eu aguentaria. Claro que de quinze em quinze minutos impossibilitaria uma conversa, mas adoro ouvir, além de sentir. Calligaris acredita no silêncio da atitude amorosa:

"- De que adianta dizer que ama e não levantar da cadeira para buscar um copo d'água?"

Ele também enaltece o silêncio amoroso na coluna "Amores Silenciosos" publicada há uma semana na Folha de São Paulo e replicada aqui.

"- É inútil ficar falando dos próprios sentimentos."

Como se dissesse que o amor é para ser sentido, vivido, compartilhado, ao invés de ficarmos falando sobre ele.

Até concordo, mas como posso me redimir se é tudo que faço e tenho feito? Falo do amor, penso sobre ele, expresso meus sentimentos...

Pior é trair o próprio desejo
Pierre Bayard, sobre quem Contardo comentou, fala do "livro interior". Cada um tem o seu. A ficção de nosso livro interior pode ser um romance ou um policial, cada um cria a sua história ideal e o mais difícil é alinhar essas histórias em um relacionamento. O livro interior dos parceiros deve ser parecido, deve ter uma conjunção harmônica, para que ambos possam ser felizes, naquilo que é "felicidade" na intimidade de cada um. Porque, nas palavras de Calligaris:

"- Maior que a culpa por trair o parceiro é a culpa por trair seu próprio desejo."

(pausa) Ele fala calmamente, raras vezes de modo mais enfático. Intercala pausas para o pensamento e esboça um sorriso leve durante toda a conversa, como se falasse mais sobre si mesmo do que sobre uma verdade absoluta. Como se expusesse "apenas" as próprias crenças de forma humilde, sem ofender, ao mesmo tempo aferindo que não mudaria ainda que não gostássemos do que ouvíamos. Como o sorriso estava sempre presente, embora as palavras ficassem duras, como acredito que fiquem enquanto escrevo, o clima era doce e delicado. Até porque estas duas palavras [doce e delicado] combinam mais com ele do que, por exemplo, ríspido e incisivo.

Continuou:

"- Eu não gostaria de estar com alguém que seja fiel a mim e, no entanto, esteja traindo o seu próprio desejo para estar ao meu lado. Isto eu não quero!"

Ciúmes
Quando indagado sobre o ciúmes falou:

"- Sou péssimo sobre esse assunto, não sei falar sobre isso porque não sei o que é ciúme. Nunca o senti".

A jornalista desacreditada da informação, não pela falta de convicção da resposta que nos pareceu muito sincera, mas pela impossibilidade do fato:

"- Nem na adolescência?
- Em meu primeiro casamento, aos 19 anos, minhas esposa era muito bonita, modelo e posou nua para uma revista masculina. Fiquei louco! Quando mostrei a revista a meu pai e demonstrei estar enciumado meu pai me penalizou com desdém: 'Não seja ridículo'. Nunca mais senti ciúmes."

Acrescentou:
"- Vejam que o amante não sente ciúmes do marido, contudo o marido sente ciúmes de um provável amante. Por que o amante não sente ciúmes? Porque ele sabe do marido e o marido não sabe sobre ele. Isso o coloca em um lugar de poder. Ao passo que se o marido que ficasse sabendo do amante tivesse a atitude que eu teria: 'Ah! Você tem um amante!? Que legal!" para o amante a relação deixaria de existir, ele perderia o interesse, porque perderia também o poder. Não aguentaria..."

Felicidade
E assim a conversa se sucedeu em rápidos minutos. Foi tão curta... A última pergunta foi sobre felcidade:

"- A felicidade não me interessa. Quero viver uma vida intensa. Quero poder gozar de todos os sentimentos, da intensidade de cada emoção."

Bravo, Contardo! Continuo sua fã.

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